segunda-feira, 28 de novembro de 2011

"Monstro"
Foi o nascimento do filho Clayton que levou Mitch a optar pelo transplante completo de rosto - apenas o terceiro feito nos EUA.
"Vi muitas crianças correrem para se esconder atrás das mães porque ficavam muito assustadas quando me viam", contou.
"Isso estava ficando difícil, porque meus amigos começaram a ter filhos, depois meu irmão teve um filho. Quando tive Clayton, não quis mais que as crianças tivessem medo de mim."
Mitch Hunter, antes e depois da cirurgia que reconstruiu sua face, destruída após uma descarga elétrica. (Foto: BBC)O norte-americano Mitch Hunter, antes e depois da
cirurgia que reconstruiu sua face, destruída após
uma descarga elétrica. (Foto: BBC)
A operação, realizada em abril, foi financiada por uma iniciativa entre o hospital Brigham and Women's, em Boston, e as Forças Armas americanas.
O número de soldados que regressam do conflito no Afeganistão com o rosto e membros mutilados levou os militares a financiar pesquisas na área de reparação plástica, incluindo transplantes de mão e rosto.
Sob a coordenação do cirurgião Bohdan Pomahac, o hospital já realizou três transplantes completos de rosto e já tem outros cinco em vista.
Para ser elegível para uma cirurgia completa, o paciente precisa ter pelo menos 25% do seu rosto danificado. Pomahac acredita que pelo menos 200 a 300 veteranos de guerra preenchem o critério.
Surpreendentemente, encontrar um doador não é tão difícil. O médico explica que prefere doadores jovens e do mesmo sexo, embora reconstruções computadorizadas sugiram que transplantar o rosto de uma mulher em um homem possa funcionar. Isto ainda não foi tentado.
O rosto é transplantado em toda sua espessura, mas o que realmente determina o visual final do rosto é a estrutura óssea da face do paciente.
No caso de Mitch, a operação correu bem. A equipe removeu a face antiga de Mitch antes de sobrepor a nova.
Pomahac conectou artérias a três nervos do corpo de Mitch no novo rosto. A nova cara do paciente, com nariz, lábios e músculos, foi então costurada no seu lugar.
A operação - a segunda do cirurgião - durou 14 horas, um pouco menos que a sua primeira.
"Quisemos simplificar a operação para torná-la mais fácil de repetir, e acho que conseguimos isso", disse o médico. "Mas a cada operação aprendemos uma enormidade de coisas."
Recuperando os sentidos
Mitch conta que, no início, o rosto estava muito inchado. "Parecia o rosto de um sujeito de cem quilos", afirmou.
À medida que o inchaço diminuía, os traços ficavam mais definidos.
Entretanto, o irmão de Mitch, Mark, diz que era capaz de ver o rosto do antigo Mitch desde o primeiro dia.
"Não sabia como eu ia reagir, mas quando atravessei a porta do hospital, vi que era ele, meu irmão", disse.
A mulher de Mitch, Katerina, é uma ex-colega de escola que ele começou a namorar muitos anos atrás, antes do transplante.
Katerina disse que já havia aceitado o fato de que seu companheiro tinha um rosto deformado, embora percebesse que ele era infeliz e evitava sair de casa.
Questionada sobre o fato de beijar os lábios de um morto - o dono original do rosto -, ela diz: "Nunca o beijei nos lábios antes.""É simplesmente louco quão longe a ciência chegou e o que eles conseguem fazer. É simplesmente incrível", afirma Katerina.
Mitch diz que as sensações estão voltando e que ele consegue, por exemplo, elevar as sobrancelhas, fazer bico e sorrir.
"Ainda tem um pouco de pele de sobra em alguns lugares", afirma. "Mas me disseram que no fim vou ficar parecido com o que era."
O médico, Pomahac, diz que o quadro deve melhorar aos poucos, em especial no que tange às sensações.
"A primeira sensação se desenvolve no primeiro ou segundo mês. Ainda é muito pequena, mas continua a melhorar", diz.
"Por volta dos 18 meses, espero que Mitch estará se sentindo próximo do normal."

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