quinta-feira, 3 de março de 2011

No hotel, crime foi cometido em 20 minutos

Menina que estava desaparecida foi enforcada pela amante do pai com cadarço de tênis, em hotel de Caxias. Assassina planejou o crime para conseguir R$ 2 mil

Rio - O desaparecimento de Lavínia Azeredo de Oliveira, de 6 anos, na segunda-feira, em Duque de Caxias, teve desfecho trágico. O corpo da menina foi encontrado ontem, sob o estrado de uma cama de concreto do quarto 6 do Hotel Municipal, no Centro de Caxias. Luciene Reis Santana, de 24, amante do professor de Educação Física Rony dos Santos Oliveira, de 30, pai da vítima, foi presa e confessou o crime. Para a polícia, ela agiu sozinha ao pegar a garota, forjar um sequestro e matar a criança para não ser reconhecida.
Foto: Eduardo Naddar / Agência O Dia
Amante do pai de Lavínia, Luciene Reis confessou na delegacia que sequestrou e matou a menina | Foto: Eduardo Naddar / Agência O Dia
>>FOTOGALERIA: Veja imagens do trágico fim do sequestro da menina Lavínia

Lavínia foi enforcada com o cadarço do próprio tênis. Seu corpo foi achado por um funcionário do hotel, enrolado num lençol e com a cabeça coberta com uma toalha.

O crime começou a ser esclarecido na noite de terça-feira, depois que agentes conseguiram imagens mostrando Luciene e Lavínia dentro de um ônibus da Viação Santo Antônio, pouco após as 6h de segunda-feira.

O assassinato causou revolta. A 60ª DP (Campos Elíseos), para onde Luciene foi levada, teve a segurança reforçada por PMs. Mais de 300 pessoas se aglomeraram em frente à delegacia e tentaram invadir o local para tentar linchar a criminosa. “Ela é a assassina e a motivação do crime foi dinheiro”, assegurou o delegado Robson Costa.
Foto: Eduardo Naddar / Agência O Dia
Curiosos se concentraram em frente ao hotel onde o corpo da menina foi encontrado | Foto Eduardo Naddar / Agência O Dia
Segundo o delegado, Luciene sabia que Rony tinha R$ 2 mil guardados para a compra de um carro e ainda tentou incriminar o ex-marido, Euzimar de Oliveira, de 25. “Mesmo depois de ter matado a criança, ela ligou para Rony, dizendo que quem supostamente tinha sequestrado Lavínia era Euzimar e que ela poderia intermediar o pagamento do sequestro, justamente R$ 2 mil”, detalhou o policial, que se emocionou ao comentar o desfecho das investigações.

Luciene vai responder por sequestro seguido de morte e pode pegar de 24 a 30 anos de prisão. “Trata-se de crime hediondo, com vários agravantes, entre eles, o de a vítima ser menor de idade e não ter tido chance de se defender”, afirmou Costa.

O delegado ainda não decidiu se vai responsabilizar também os proprietários e os funcionários do Hotel Municipal, que não teriam percebido a entrada da menina. À noite, Luciene foi transferida para a Polinter de Magé, sob forte esquema de segurança.

Dentro do hotel, a morte em menos de 20 minutos

Três funcionárias do hotel contaram à polícia que Luciene teria chegado ao estabelecimento pouco antes de 7h de segunda-feira. Elas garantiram que não viram Lavínia, alegando que o balcão da recepção é alto. A amante do pai da menina teria permanecido menos de 20 minutos no quarto, onde pediu um maço de cigarros e um pacote de batatas fritas, no valor de R$ 8.

“Fui acordado pelas recepcionistas, pedindo que eu interpelasse a mulher (Luciene), que estava saindo. Nervosa e fumando muito, ela alegou que não tinha dinheiro e que ia pedir a alguém, pelo orelhão, para levar os R$ 8 . Depois, acabou concordando, para pagar o gasto, em limpar os quartos 7 e 8. Não sei como ela teve tanta frieza para fazer isso tudo, mesmo já tendo matado a menina”, revelou o segurança João Batista Cruz, que disse morar no hotel.

Segundo ele, ontem de manhã, o corpo foi descoberto por um funcionário da manutenção elétrica, que foi consertar o ar-condicionado e desconfiou do mau cheiro no quarto.

Indignados, curiosos que acompanharam a retirada do corpo de Lavínia tentaram invadir e quebrar o Hotel Municipal. “Esse estabelecimento funciona como ponto de drogados e prostitutas. Tinha que ser fechado”, afirmou um comerciante, dono de uma loja nas imediações.

Tio-avô de vítima imobilizou a criminosa

Foi um tio-avô de Lavínia, o supervisor naval Celso Oliveira de Assis, de 60, quem ajudou a polícia a prender Luciene Santana ontem de manhã. Ela havia marcado encontro, por volta de 9h, na Praça de Gramacho, com o pai da criança, a quem exigiu dinheiro para dizer onde estava a menina.

Foto: Divulgação
Imagens do circuito interno do ônibus mostram Lavínia com a amante do pai, de rosa, no fundo do vídeo | Foto: Divulgação
“Segui o Rony em outro carro e consegui chegar perto dos dois, sem que ela soubesse quem eu era. Foi quando escutei a assassina dizer para o meu sobrinho: ‘Você me dá o dinheiro, eu entrego para o cara e pego a menina de volta’. Aí, não tive mais dúvida: agarrei a mulher pelos cabelos, a imobilizei no chão, e pedi a um primo que me acompanhava para chamar a polícia”, contou.

Mesmo depois da prisão da amante, Rony ainda voltou para casa sem saber que a filha estava morta. Foi o padrinho da menina, Rogério dos Santos Oliveira, de 33, que estava no IML de Caxias, quem deu a notícia sobre a sobrinha ao irmão.

“Olha só, fica calmo, tá! Estou aqui, perto dela, mas a nossa menina não tem mais vida... Dá apoio para Andréa (mãe de Lavínia)”, disse, às lágrimas, Rogério, que já havia reconhecido o corpo da sobrinha no hotel. Rony, que estava em casa ao lado da mulher, sofreu uma crise nervosa e teve que ser atendido por uma equipe do Samu. Lavínia faria 7 anos no dia 13.

Na década de 60, ‘Fera da Penha’ colocou fogo em menina

A morte de Lavínia é um dos muitos casos envolvendo crianças que chocaram a sociedade. Uma história parecida com a dela aconteceu na década de 60 e ficou conhecida como ‘A Fera da Penha’. Por ciúmes, Neyde Maria Lopes matou Tânia Maria Coelho Araújo, a Taninha, filha de seu amante, Antônio Couto Araújo. Ela atirou na menina e a incendiou.

Anos depois, foi condenada a 33 anos de prisão em regime fechado, mas conquistou a liberdade 15 anos depois. Atualmente, vive numa casa na Zona Norte da cidade.

Segundo o psiquiatra forense Talvane de Moraes, esse tipo de crime bárbaro geralmente tem motivação passional. “A pessoa usa a criança para promover a vingança e atingir violentamente o outro”, afirmou. Talvane acrescentou que as crianças são facilmente enganadas, o que facilita a aproximação com o criminoso.

Em maio passado, a procuradora de Justiça aposentada Vera Lúcia Sant’Ana Gomes, de 66, acabou presa após ficar comprovada denúncia de tortura e maus-tratos contra criança de apenas 2 anos.

Três meses depois, a menina Joanna Marcenal Marins morreu depois de ficar 26 dias internadas e ser atendida por falso médico. Ela apresentava hematomas pelo corpo após passar alguns dias com o pai.

Em novembro, uma menina de 9 anos foi achada morta num dos acessos ao Morro da Providência. O marceneiro Jonas Marcelino da Silva, 35, confessou o crime a facadas.

Reportagem de Francisco Edson Alves e Geraldo Perelo

fonte:O DIA ONLINE

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