quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lobão lança caixa de CDs, faz show na Lapa e solta sua língua afiada contra o Rio

Rio - Lobão fica hipnotizado com o que parece ser uma cena de cinema: de madrugada, perambulando na Lapa, ele dá de cara com um cadáver em pleno fervo da Avenida Mem de Sá. “Ele estava lá paradão, como todo cadáver, em cima de uma poça de sangue na frente do botequim e ninguém em volta dando bola, uma loucura”, reage o roqueiro que tem fama de louco. “Quando o rabecão chega, o dono do bar coloca uma mesa em cima da poça de sangue e a vida continua. Foi a gota d’água, por isso resolvi deixar a cidade. Não posso ser cúmplice disso”, desabafa Lobão.
Foto: Divulgação
O músico carioca ainda se lembra bem daquela imagem ‘punk’ e, desde 2006, juntou toda a sua tribo, deixou o Rio e foi atear som em São Paulo. Nesta sexta-feira, porém, o cantor, compositor e multi-instrumentista recorda o princípio da carreira e revisita sua obra no Circo Voador, na mesma Lapa, onde um cenário de fim do mundo há cinco anos o fez achar que tudo deu errado. “Amo minha cidade, mas estou em discordância cultural com o Rio, que hoje é só novela, samba, funk, futebol e um padrezeco surfista no domingo. A cidade está um caco e todos achando tudo joia”, dispara sua metralhadora giratória.

Mais do que uivar que o Rio errou, Lobão tem motivos para comemorar. Sua recém-lançada autobiografia, ‘50 Anos a Mil’ (Nova Fronteira, 591 págs. R$ 49,90), na qual passa a limpo sua vida louca, vendeu mais de 30 mil cópias. “Fiquei com medo de abordar vários assuntos, entrei em crise mesmo, sobre publicar isso ou aquilo, mas o livro foi muito bem acolhido. Peguei a verve de romancista.Sempre achei que escreveria muitos livros. Comecei bem com minha biografia e agora estou mais confortável. Tenho esqueletos de um livro infantil, um de contos e um romance”, conta o músico-escritor.

Lobão acaba de lançar também a caixa ‘81-91’, que destrincha sua carreira em três CDs e o DVD ‘Acústico MTV’ (Sony, R$ 84,90). Entusiasmado, como que com saudades de um lugar que nunca viu, parece não dar para controlar sua vontade de produzir: “Vou gravar um DVD ao vivo no fim do ano, com os shows dessa turnê, que vai correr o Brasil. Estou cheio de trechos de músicas novas para concluir até lá”, revela.

No Circo Voador, ele vai apresentar duas novas canções, ‘Das Tripas, Coração’ e ‘Song For Sampa’. Esta, traz o verso “Passageiros no metrô/Rua Augusta e roquenrou/Eu penso, essa é minha cidade”, e é uma declaração de amor à cidade onde mora hoje. “O Rio está sem rebeldia e isso aproxima a cidade do túmulo do rock, cheio de gente milimetricamente mal vestida. O cara que ouvia Led Zeppelin semana passada agora toca chorinho na Lapa. Se colocar um ‘pauduretrônomo’ nesses caras, vai dar baixa total. No Rock In Rio, periga o público formar uma quadrilha de São João na frente do show do Iron Maiden”, prevê.

Enquanto denuncia o que classifica como decadência sem elegância do Rio, Lobão defende-se do rótulo de maluco. “Dizem que sou louco para acabar com meu discurso. Acha que é fácil tocar 15 instrumentos, compor, lançar discos e ainda ser empresário? Não dá para uma pessoa maluquinha fazer isso durante 35 anos, não é?”.

fonte:O DIA ONLINE

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