“Terras raras” ainda mais raras em Buena
Rafael VargasNa praia de Buena, em São Francisco de Itabapoana, está localizada uma Unidade das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que há décadas, realiza a prospecção e pesquisa, separação, industrialização e comercialização, dos minerais pesados conhecidos popularmente como “areias monazíticas” pa-ra o mercado nacional. Só que desde março de 2010, a unidade está funcionado abaixo de sua capacidade e operando com reserva suficiente para mais um ano no máximo, e corre o risco de fechar, pois suas fontes de extração no local se extinguiram. A esperança é de que seja firmado um acordo com a Universidade Federal Flu-minense (UFF) para a realização de pesquisas no oceano com o objetivo de identificar novos de-pósitos de terras raras no país. A INB assumiu a exploração de “terras raras” no Brasil nos anos 90, após a extinção da Nuclemon, estatal que estava à frente da atividade no país até então.
O gerente de Produção da unidade, Roberto Douglas Pasquier, espera que os estudos sejam realizados para que a atividade continue em Buena, e ressalta que toda mineração tem uma data para acabar e que as jazidas mapeadas pela INB no município já se esgotaram, pois a atividade existe há mais de 50 anos no local. Ele explica que a produção na Unidade não danifica o ambiente devido aos diversos processos realizados dentro das instalações em Buena, como a restauraração das áreas — chamadas de “lavras” — de onde toda a matéria prima para produzir a ilmenita, a zirconita, o rutilo e principalmente a monazita, este mineral que o Brasil é detentor de umas das mais significativas reservas no Mundo e largamente usado na produção de componentes de alta tecnologia, como partes integrantes de telefones celulares, tubos de imagem de televisores, catalisadores usados em escapamentos de automóveis e cerâmicas de alto desempenho que fazem levitar os trens-bala japoneses.
— Buena existe em função da fábrica. Empregamos 60 funcionários aqui e temos cerca de 150 trabalhadores terceirizados aqui na Unidade. Estamos funcionando com as reservas que vieram do estoque da Unidade da INB de São Paulo, já desativada, que processava quimicamente esse extrato de onde retiramos estes minerais raros, processo este que não realizamos aqui. Fazemos a extração das areias e separamos os minerais e estamos enfrentando problemas com a falta de jazidas. Sabemos que existe a possibilidade de retirarmos as areias monazíticas do mar, contudo, a questão ambiental não nos permite retirar. Poderíamos ser líderes nesse mercado, atualmente liderado pela China, responsável por 97% da produção internacional, mas a dificuldade de projetar investimentos de longo prazo prejudica nossa pesquisa — afirma Pasquier.
China domina o mundo e Brasil a reboque
Com a elevação dos preços no mercado internacional, devido à imposição de restrições às exportações de terras raras, em setembro do ano pas-sado, pelo governo chinês, o preço da tonelada deu um alto de U$S 5 mil para U$S 50 mil.
Para competir com a China neste mercado em expansão de nove bilhões de dólares, as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) teriam de cons-truir mais duas unidades fabris no local: uma para realizar a separação dos cloretos e outra para “abrir” quimicamente a monazita. Segundo o gerente de produção, Roberto Pasquier, estas duas unidades somadas a que já funciona em Buena, daria a INB as condições necessárias para concorrer no mercado internacional. “O que temos está aqui. Se estivéssemos operando este processo com um todo, o município arrecadaria mais impostos e haveria mais empregos para a população”, afirma.
Ambientalista contra política da empresa
O ambientalista Aristides Soffiati afirma que a INB muda a geografia do município de São Francisco do Itabapoana desde a década de 30 sem pagar nada por isso, e que, ao longo dos anos, vem deixando sua marca de sua ação devastadora na Praia da Lagoa Doce, na foz da Lagoa Salgada, nas encostas das falésias, no aterramento da foz do córrego de Guriri e da foz do Ribeirão do Tatagiba.
— Na década de 80, a INB se chamava Nuclemon, e mandava terras raras da região de Buena para sua unidade em São Paulo. Em troca, recebia os rejeitos radioativos de lá. Na época, um ex-funcionário deles fez uma denunciou que havia 28 tambores do tório — altamente radioativo — enterrados na praia da Lagoa Doce. Isso fez com que o Ministério Público Estadual efetuasse uma diligencia no local e exigiu que os tambores, vários deles vazando material radioativo devido ao contato com a água salgada. A empresa foi paralisada por 18 dias e tudo caiu no esquecimento. Eles não pagam por seus danos ambientais e destroem o meio ambiente em áreas públicas”, diz Soffiati, explicando que a INB é uma empresa de mentalidade do século IXX, funcionando com toda liberdade em causar danos no século XXI.
fonte:Folha da Manhã
oie
ResponderExcluir