domingo, 25 de novembro de 2012


   

Coluna de Cláudio Andrade

Ser político NÃO é para qualquer um

Aqueles que entendem um pouco de política sabem que o Sistema é ‘duro’ e não abre espaço para os chamados parlamentares românticos



Acompanho política partidária há vinte anos e confesso aos leitores que já presenciei eventos surpreendentes. Políticos aliados tornarem-se adversários. Candidato eleito de véspera e derrotado após a recontagem. Homens públicos (com discursos probos) tornarem-se tema de manchetes criminais em jornais e revistas, entre outros casos.    

Certo é que é difícil ser político na verdadeira essência da palavra. Impressionante como o Sistema está contaminado. Atos de improbidade, denúncias procedentes, condenações e prisões temporárias e preventivas estão entre as questões mais debatidas em detrimento do efetivo e construtivo debate político propriamente dito.

Os parlamentares nacionais (de todas as esferas) perdem tempo com assuntos não diretamente relacionados ao cargo a eles conferidos. Alguns eleitos passam grande parte do mandato respondendo a processos administrativos e judiciais. Usam o plenário para eleger algozes e contra eles desferir as mais vis acusações. Acusações essas cuja grande parte será esquecida com o tempo já que, por muitas vezes, não vêm baseadas em provas capazes de dar-lhes procedência.

O cenário político nacional encontra-se obscuro e envolto por uma nuvem de incertezas acerca do que realmente um parlamentar deve ter como linha de conduta enquanto representante do povo. Não restam dúvidas de que o debate de ideias é necessário e salutar. Como já diziam há décadas: “toda unanimidade é burra”. Porém, o bom debate não pode extrapolar o campo do pensamento racional e desaguar no pessoal.

Há políticos que envergonham a nação? Sim, existem. Por outro lado, há centenas que desejam exercer o cargo pautados em ditames naturais, onde o Sistema pecaminoso do ganho fácil deveria passar longe. Aqueles que entendem, ao menos um pouco, de política sabem que o Sistema é ‘duro’ e não abre espaço para os chamados parlamentares românticos. São aqueles que, ao serem eleitos, tentam dar ao cargo ocupado uma essência nova, limpa e construtiva.

No entanto, ao tomarem posse, são ‘abalroados’ pelo Sistema e colocados para fora da pista. Nesse momento, para aquele político só há dois caminhos a seguir: voltar para a pista e aceitar participar do comboio ou ficar, durante todo o seu mandato, no acostamento com os pneus arriados.

Não se trata de se propagar ‘terra arrasada’. A questão é que não podemos fechar os olhos para essa infeliz constatação acerca do cenário nacional. Nele, não basta vencer as eleições, pois é preciso ser aceito no seleto grupo de parlamentares alinhados com o Poder Executivo. Uma triste situação transparece que os cargos conferidos aos eleitos são meras peças de ornamento negociadas sempre que um chefe político tenha interesse.

Evidente que as negociações políticas existem e que, sem elas, o processo evolutivo político não ocorre. Contudo, inadmissível é o loteamento de mandatos. Quando um candidato é eleito, ele promete inúmeras ações positivas e, ao ser tocado pelo Sistema, sucumbe e só aparece se obedecer a uma cartilha pré-estabelecida.

Ser eleito isento de compra de votos, com prestação de contas aprovada e exercer o mandato com a remuneração que o cargo lhe confere é impossível?  Caros leitores, será que teremos que ensinar aos nossos filhos que a política se tornou uma profissão contaminada, vinculada e até pecaminosa? Será que os nobres e históricos debates serão raridades encontradas apenas nos livros escolares ou nas bibliotecas públicas?

Entendo que o nicho social, que ainda sonha com dias melhores, deve manter o seu poder de indignação aceso. Caso este poder nos seja ceifado, estaremos diante de um abismo onde a única alternativa será aplaudir os vendilhões do templo. Uma verdadeira lástima! 

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