quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Exportações de carne de cavalo


O Brasil, conhecido pela relevância nas exportações de carne bovina e suína, também atua no mercado de carne de cavalo. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em 2012 o país exportou 2.375,9 toneladas de carne de equídeos (que inclui cavalo, jumento e mula), um aumento de cerca de 13% em relação ao volume de 2011. Isso coloca o Brasil como o 12º maior exportador do mundo nesse mercado. Se o critério for exportações líquidas (exportações menos importações), o país ocupa a 9ª posição global.
Depois do escândalo de uso de carne de cavalo em substituição à bovina, que ganhou o noticiário internacional nas últimas semanas, há quem acredite que as vendas poderão sofrer retração. E o cenário pode ficar ainda pior caso a desconfiança do consumidor europeu contamine a indústria de alimentos de uma forma geral. Ainda mais depois de a Nestlé, gigante do setor, informar na segunda-feira (18) ter encontrado o DNA de cavalo em pratos prontos vendidos na França, na Itália, na Espanha e em Portugal. A matéria-prima saiu da linha de produção de um fornecedor da brasileira JBS, a alemã H.J. Schypke .
Os embarques brasileiros de carne de cavalo já foram mais relevantes, como lembra Roberto Arruda de Souza Lima, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq, escola de Agronomia ligada à USP. Em 2005, foram exportadas 19.100 toneladas do produto. Os principais mercados consumidores são países da Europa, como Itália e França, e parte da Ásia.
Apesar da posição ocupada pelo Brasil, explica Souza Lima, dificilmente se vê casos em que a atividade é rentável para aqueles que criam o animal exclusivamente para o abate. O mais comum é que o cavalo seja usado em outra atividade e vendido a um frigorífico quando ficar mais velho. “Criá-lo para o abate não é vantajoso porque a chamada taxa de conversão [quanto do que ele come é transformado em carne] é muito baixa, principalmente quando comparada ao bovino”, explica o professor. “Quem deseja ganhar dinheiro produzindo carne deve optar por criar boi. O abate de cavalo é uma atividade complementar, uma receita adicional para o dono do cavalo velho”, afirma o acadêmico.
A cotação da carne bovina é mais alta que a de equídeos. O produtor de gado vende o quilo por um valor em torno de R$ 6,33. Já a carne de cavalo custa na casa dos R$ 5.
Carne de jegue e de mula (foto) é apreciada em países como a China
O preço menor, acredita Souza Lima, pode ter influenciado na substituição da carne bovina pela de cavalo. ”Trocou-se a matéria-prima por uma carne muito similar em gosto e aparência, mas que é mais barata”.

No ano passado, uma comitiva chinesa visitou o Rio Grande do Norte para ver a viabilidade de ter o Estado como fornecedor de carne de jumento. A falta de escala na criação do animal inviabilizou o projeto até agora. “A exportação é viável economicamente, mas não temos essa quantidade toda de animais disponíveis nem capacidade de abate em frigoríficos para elevar significativamente nossas exportações”, afirma o professor da Esalq.

De acordo com o Ministério da Agricultura, sete frigoríficos brasileiros são habilitados a exportar para a União Europeia. Eles estão localizados em Minas Gerais, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul. Mas apenas três deles produzem.

Para o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio, a União Europeia tem responsabilidade na disseminação de carne de cavalo no lugar do produto de origem bovina. “Ao impor tantas tarifas, normas e ações protecionistas e criar dificuldades para nossas exportações de carne, a Europa criou uma oportunidade de negócio para o crime”, afirma o representante do setor.

Como consequência do escândalo, já se vê uma reação de quem faz parte da cadeia de alimentos. O McDonald’s divulgou no último fim de semana uma campanha publicitária em que mostra a origem dos produtos comercializados em suas lojas. É uma forma de fomentar a própria credibilidade e sutilmente tripudiar sobre o que aconteceu com o concorrente Burger King na Irlanda e no Reino Unido, onde foi confirmada a presença de carne de cavalo em vez do hambúrguer bovino.

Segundo o professor Souza Lima, da Esalq, a carne de cavalo é muito saudável. Uma das suas vantagens em relação a outras carnes é a quantidade de ferro. São 3,8 miligramas de ferro por 100 gramas de carne de equino. Já no caso do bovino, a relação é de 1,9 mg de ferro para 100 gramas de carne. Além disso, ela tem mais proteína (igual a do bovino, entre 21% e 23%, contra uma variação entre 14% a 17% do suíno e de 58% a 64% do carneiro). O equino também tem menos gordura (entre 1% e 3%).
IG

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