domingo, 17 de março de 2013


'Chorei tinta por 2 dias', diz tatuador que decidiu pintar os olhos de preto


Abre

Com 70% do corpo tatuado, Rodrigo Fernando dos Santos, conhecido em São Carlos (SP) como Musquito, resolveu inovar. Aos 39 anos, ele decidiu escurecer o branco dos olhos. A técnica, denominada “eyeball tattoo”, consiste em injetar tinta na camada de proteção dos olhos. O processo é irreversível. “Chorei tinta dois dias. Agora só mudando a cor para ficar branco de novo. Mas ainda assim acho que fica meio cinza”, diz o sãocarlanse, que há sete anos trabalha como tatuador na cidade. “Não me inspirei em ninguém, fiz pela arte e para ficar diferente.” Para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, o procedimento invasivo é desaconselhável e pode causar inflamação interna, levando à perda da visão.

Musquito foi o 13º brasileiro a experimentar o “eyeball tattoo”, há três semanas. O procedimento difundido nos Estados Unidos foi realizado em Jundiaí (SP) pelo tatuador Rafael Leão Dias, de 31 anos, considerado o único apto a realizar esse tipo de trabalho no país. Segundo ele, a tinta usada para esse tipo de arte é importada e não é a mesma utilizada nas tatuagens convencionais. Há também uma agulha especial utilizada como se fosse uma seringa. Para colorir o olho, são necessárias três aplicações em cada um.


“Não há perfuração. A aplicação é feita entre a camada conjuntiva e a esclera, que protege o olho. Estudei a técnica durante dois anos e fiz a primeira aplicação em outubro de 2012. O procedimento não é proibido nem aqui nem fora do país. Não há risco nem dor devido ao uso de um colírio”, afirma Dias, tatuador há sete anos.

Método perigoso

O especialista João Alberto Holanda de Freitas, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, afirma que o método é inteiramente nocivo e não adequado.


“Isso pode dar alguma complicação, com uma uveíte (inflamação interna) e a pessoa perder a visão. A recomendação é não fazer. O consenso da oftalmologia brasileira é para que não se faça isso”, ressalta o médico.
Apesar de saber dos riscos, o tatuador diz que estava 100% confiante de que tudo ia dar certo.


“Cheguei lá e minha esposa disse: ‘Se você quiser amarelar, por mim tudo bem, não tem problema. Eu prefiro que você desista do que fique cego’. Mas resolvi correr o risco”, relata.

Ele pagou R$ 1 mil pelo procedimento, que durou duas horas. “O pós também foi tranquilo. Teve um pouquinho de irritação, como uma conjuntivite, mas não atrapalhou em nada. Os olhos ficaram lacrimejando e chorei tinta dois dias”, conta.

Na volta para casa, Musquito sentiu o que a sua nova aparência causaria nas pessoas. O farol do carro queimou e a saída foi procurar um hotel para passar a noite, mas não deu certo. “A gente chegava à recepção, olhavam para a cara dele e diziam que hão tinha vaga, então a gente não conseguiu quarto", conta a mulher, Letícia Dias de Carvalho, de 35 anos.


Preconceito

O tatuador diz que está acostumado a lidar com situações como essa. Segundo ele, há muito preconceito, mas nada o faz baixar a cabeça, parte do corpo em que tatuou a frase “Cuide da sua vida”. “Eu não dependo da opinião de ninguém. Tem evangélico que me para no supermercado, pergunta o meu nome e diz que vai colocá-lo na lista porque o Senhor vai me salvar. Eu respondo: ‘Mas me salvar do quê?’ Isso é a opção da minha vida. Você gosta de igreja, eu gosto de tatuagem”, conta Musquito, que não tem religião. “Não acredito em Deus, não acredito em diabo.

Ele diz ainda que, muitas vezes na rua, os idosos se assustam com a sua aparência. Uns atravessam de calçada e outros fazem até o sinal da cruz quando passam por ele, conta. Musquito afirma também que se engana quem pensa que ele é parado toda hora pela polícia devido à sua aparência.

“Muito pelo contrário. É super tranquilo aqui e fora da cidade. Eles sabem diferenciar quando é arte e quando é bandidagem. Tem muito ladrão e estuprador preso que têm Jesus Cristo e Nossa Senhora Aparecida tatuados no braço. Então o maior exemplo está em cada um mesmo”, analisa.
mor à arte

Pai de três filhos (Évora, de 2 anos, Lucas, de 7, e Maria Eduarda, de 10), Musquito trabalha com tatuagem há sete anos. O amor pela arte surgiu quando tinha 13 anos. Segundo ele, o ex-namorado da irmã tinha um dragão e uma serpente desenhados nos braços. “Acabei tatuando um cavalo alado, coisa de moleque mesmo. Meu pai não falou nada, mas apanhei da minha mãe. Ela só conseguiu me segurar até a primeira, porque 15 dias depois eu estava fazendo a segunda”, relembra.


Desde então, o sãocarlense foi pegando gosto pelos desenhos, começou a trabalhar na área e agora seu objetivo é tatuar 100% do corpo – ou melhor, 99%. Isso porque ele não pretende fazer uma tatuagem anal, procedimento que chamou a atenção dos visitantes da 17ª edição da South Florida Tatoo Expo, nos Estados Unidos, no ano passado. “Deve ser terrível, não vou experimentar. Esse é o 1% do corpo que não vou tatuar”, brinca Musquito.

A família dele e a da mulher entendem o gosto do casal pelos desenhos e não se incomodam com os excessos. As crianças também apreciam a arte, mas, segundo a mãe, só poderão fazer a primeira tatuagem, caso queiram, após atingirem a maioridade.

“A gente ama o que faz, logo a gente quer que eles sigam o mesmo caminho, mas não vamos impor nada. Como todos os pais, a gente espera que os filhos sigam os mesmos passos. Agora tatuar o próprio corpo somente depois dos 18 anos”, diz a mãe.

fonte:http://www.d1noticias.com.br

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