'Chorei tinta por 2 dias', diz tatuador que decidiu pintar os olhos de preto
Com 70% do corpo tatuado, Rodrigo Fernando dos Santos, conhecido em São Carlos (SP) como Musquito, resolveu inovar. Aos 39 anos, ele decidiu escurecer o branco dos olhos. A técnica, denominada “eyeball tattoo”, consiste em injetar tinta na camada de proteção dos olhos. O processo é irreversível. “Chorei tinta dois dias. Agora só mudando a cor para ficar branco de novo. Mas ainda assim acho que fica meio cinza”, diz o sãocarlanse, que há sete anos trabalha como tatuador na cidade. “Não me inspirei em ninguém, fiz pela arte e para ficar diferente.” Para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, o procedimento invasivo é desaconselhável e pode causar inflamação interna, levando à perda da visão.
Musquito foi o 13º brasileiro a experimentar o “eyeball tattoo”, há três semanas. O procedimento difundido nos Estados Unidos foi realizado em Jundiaí (SP) pelo tatuador Rafael Leão Dias, de 31 anos, considerado o único apto a realizar esse tipo de trabalho no país. Segundo ele, a tinta usada para esse tipo de arte é importada e não é a mesma utilizada nas tatuagens convencionais. Há também uma agulha especial utilizada como se fosse uma seringa. Para colorir o olho, são necessárias três aplicações em cada um.
“Não há perfuração. A aplicação é feita entre a camada conjuntiva e a esclera, que protege o olho. Estudei a técnica durante dois anos e fiz a primeira aplicação em outubro de 2012. O procedimento não é proibido nem aqui nem fora do país. Não há risco nem dor devido ao uso de um colírio”, afirma Dias, tatuador há sete anos.
Método perigoso
O especialista João Alberto Holanda de Freitas, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, afirma que o método é inteiramente nocivo e não adequado.
“Isso pode dar alguma complicação, com uma uveíte (inflamação interna) e a pessoa perder a visão. A recomendação é não fazer. O consenso da oftalmologia brasileira é para que não se faça isso”, ressalta o médico.
Apesar de saber dos riscos, o tatuador diz que estava 100% confiante de que tudo ia dar certo.
“Cheguei lá e minha esposa disse: ‘Se você quiser amarelar, por mim tudo bem, não tem problema. Eu prefiro que você desista do que fique cego’. Mas resolvi correr o risco”, relata.
Ele pagou R$ 1 mil pelo procedimento, que durou duas horas. “O pós também foi tranquilo. Teve um pouquinho de irritação, como uma conjuntivite, mas não atrapalhou em nada. Os olhos ficaram lacrimejando e chorei tinta dois dias”, conta.
Na volta para casa, Musquito sentiu o que a sua nova aparência causaria nas pessoas. O farol do carro queimou e a saída foi procurar um hotel para passar a noite, mas não deu certo. “A gente chegava à recepção, olhavam para a cara dele e diziam que hão tinha vaga, então a gente não conseguiu quarto", conta a mulher, Letícia Dias de Carvalho, de 35 anos.
Preconceito
O tatuador diz que está acostumado a lidar com situações como essa. Segundo ele, há muito preconceito, mas nada o faz baixar a cabeça, parte do corpo em que tatuou a frase “Cuide da sua vida”. “Eu não dependo da opinião de ninguém. Tem evangélico que me para no supermercado, pergunta o meu nome e diz que vai colocá-lo na lista porque o Senhor vai me salvar. Eu respondo: ‘Mas me salvar do quê?’ Isso é a opção da minha vida. Você gosta de igreja, eu gosto de tatuagem”, conta Musquito, que não tem religião. “Não acredito em Deus, não acredito em diabo.
”
Ele diz ainda que, muitas vezes na rua, os idosos se assustam com a sua aparência. Uns atravessam de calçada e outros fazem até o sinal da cruz quando passam por ele, conta. Musquito afirma também que se engana quem pensa que ele é parado toda hora pela polícia devido à sua aparência.
“Muito pelo contrário. É super tranquilo aqui e fora da cidade. Eles sabem diferenciar quando é arte e quando é bandidagem. Tem muito ladrão e estuprador preso que têm Jesus Cristo e Nossa Senhora Aparecida tatuados no braço. Então o maior exemplo está em cada um mesmo”, analisa.
mor à arte
Pai de três filhos (Évora, de 2 anos, Lucas, de 7, e Maria Eduarda, de 10), Musquito trabalha com tatuagem há sete anos. O amor pela arte surgiu quando tinha 13 anos. Segundo ele, o ex-namorado da irmã tinha um dragão e uma serpente desenhados nos braços. “Acabei tatuando um cavalo alado, coisa de moleque mesmo. Meu pai não falou nada, mas apanhei da minha mãe. Ela só conseguiu me segurar até a primeira, porque 15 dias depois eu estava fazendo a segunda”, relembra.
Desde então, o sãocarlense foi pegando gosto pelos desenhos, começou a trabalhar na área e agora seu objetivo é tatuar 100% do corpo – ou melhor, 99%. Isso porque ele não pretende fazer uma tatuagem anal, procedimento que chamou a atenção dos visitantes da 17ª edição da South Florida Tatoo Expo, nos Estados Unidos, no ano passado. “Deve ser terrível, não vou experimentar. Esse é o 1% do corpo que não vou tatuar”, brinca Musquito.
A família dele e a da mulher entendem o gosto do casal pelos desenhos e não se incomodam com os excessos. As crianças também apreciam a arte, mas, segundo a mãe, só poderão fazer a primeira tatuagem, caso queiram, após atingirem a maioridade.
“A gente ama o que faz, logo a gente quer que eles sigam o mesmo caminho, mas não vamos impor nada. Como todos os pais, a gente espera que os filhos sigam os mesmos passos. Agora tatuar o próprio corpo somente depois dos 18 anos”, diz a mãe.
fonte:http://www.d1noticias.com.br
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