quarta-feira, 16 de novembro de 2011



 Sem Marrone,Bruno fala da rotina desde o afastamento do amigo para tratar a Síndrome do Pânico:'O palco ficou vazio sem ele'





Era uma tarde normal de maio quando o telefone tocou na casa de Uberlândia. Um amigo dizia que um helicóptero havia caído em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Imediatamente, as pernas do dono da casa bambearam. Ele sabia, de alguma forma, que dentro daquela aeronave estava o companheiro de uma vida. Não foi fácil para Bruno ter notícias de Marrone. Quando conseguiu confirmar o acidente, pensou: "eu já sabia que isso iria acontecer".

Foram muitos os avisos para que Marrone não utilizasse o helicóptero em distâncias muito longas. Teimoso, o sertanejo dizia que sabia o que estava fazendo. Não sabia. Não sabia, inclusive, que estava sofrendo de Síndrome do Pânico e claustrofobia. Por isso a tensão em entrar em avião, em viajar de ônibus, em entrar em elevador com mais de três pessoas. Por isso o helicóptero... Com janelinha, porque não aceitava ficar fechado. Já não aceitava também a agenda de shows lotada, em cidades quase fora do mapa. Rotina que seria ainda mais penosa com o lançamento da turnê de "Juras de amor", nome do novo CD da dupla que "dormiu na praça e acordou para o estrelato".

Coube a Marrone bater em retirada para tratar de uma doença que acomete anônimos e famosos, abastados e miseráveis. Esta semana, o psiquiatra que o assiste desde agosto, liberou o cantor para voltar aos palcos, dia 19, no Citibank Hall, no Rio. Marrone já fez dois voos, num jatinho, entre Goiânia e Jussara, onde fica sua fazenda, no interior de Goiás, e como parte do tratamento participa de voos em simuladores.

A Bruno, foi dada a incumbência de prosseguir. Só, na estrada. A seguir, o cantor e compositor fala da falta que Marrone está fazendo, da solidão, da guinada na carreira, da música que achava que não sabia mais fazer, de carreira solo, dos shows e até de um fã (homem, sim!) que tentou agarrá-lo de cueca!

— Como você está lidando com a ausência do Marrone?

— Sinto um vácuo, fico perdido. O público espera o Bruno e Marrone, foi isso que ele pagou. É a dupla que ele quer ver. E fiquei sentindo a falta do Marrone, a divisão do palco. Eu vou pra lá, ele vem pra cá. O palco ficou enorme, vazio... É tudo mais difícil sem ele.

— Quando foi o primeiro show sem ele? Como reagiu a plateia?

— A primeira vez foi no Vila Country, em São Paulo, logo depois que caiu o helicóptero. Fiz cinco shows sem ele. Me lembro que foi uma coisa muito emocionante, mas também foi tão estranho. Ele tem que voltar logo, o público não admite somente eu sem o Marrone. Se ele não melhorar, vou trazê-lo de volta. Nem que seja no tapa (risos) .

— Onde ele faz mais falta?

— Falta a sanfona dele lá, né? Ele faz falta no palco, na voz, no camarim, nas brincadeiras, até na encheção de saco. E o povo quer ver nós dois cantando juntos. Tenho o sentimento de perda sem ter perdido o outro, sabe como é?

— Imagino que muita gente já esteja pensando que você vai fazer carreira solo. Pensa nisso?

— Muita gente já me perguntou se vou fazer carreira solo. Esse boato já existia antes da parada do Marrone. Tem muita gente que adoraria separar as duplas, né? Gente maldosa mesmo, que torce para que a gente se separe. Essa coisa de falar que a voz do Marrone não aparece tanto, que ele não canta. Querendo ou não, a gente escuta muito isso. Quem fala não sabe a qualidade da segunda voz do Marrone, do tanto que ele sabe fazer a sanfona, da parceria. Nem na mídia saio só como Bruno. É sempre os dois. No começo do show, tem um vídeo do Marrone se explicando, pedindo para o público me receber bem. Só Deus separa a gente. Disse isso uma vez e repito.

— Você fala com ele diariamente, conversam sobre os shows, divide o cachê com ele?

— Eu não falo com ele sempre, não. Deixo ele sossegadinho lá em Goiânia. Estou trabalhando pra ele, isso sim! (risos). Estou dividindo o cachê certinho, senão ele não estaria fazendo o tratamento. Ia era ficar mais doido um pouco sem dinheiro, já imaginou? (risos)

— Do que se lembra do dia do acidente?

— Estava no helicóptero um dia antes, sabia? Tínhamos feito dois shows de rádio em São Paulo, o maior temporal, vento, a gente voando de lado. Aí, no dia seguinte, fomos para Curitiba e eu falei: "Marrone, vamos no avião comigo, tá chovendo muito aqui". E ele disse que não ia, não. Ainda bateu no vidro do helicóptero e falou: "comprei esse bichão aqui ó, e isso aqui é minha salvação". Ainda retruquei que era melhor avião, ele ficou bravo comigo.

— E quando veio a notícia?

— Nossa, foi pesado. Um amigo meu que mora em São José do Rio Preto me ligou e disse: "olha aí pra mim, parece que um helicóptero caiu aqui e o pessoal tá falando que é do Marrone". Fiquei branco. Liguei para o escritório. Ninguém sabia de nada. Tinha acabado de acontecer. Não conseguia falar com o Marrone. Daí veio a notícia. Eu em casa, em Uberlândia já, minha perna bambeou e pensei que ele tinha morrido, e não chegava a resposta. Chegava a notícia picada. Foi uma agonia. Uma situação que jamais desejaria para alguém.

— O que mudou na vida de vocês, além dessa separação temporária?

— Foi nada mais nada menos que uma verdade que a gente cansou de falar para ele que iria acontecer. Sempre disse: helicóptero não foi feito para grandes distâncias assim. E ele era teimoso. Não aceitava. Quando caiu esse helicóptero, pensei imediatamente nisso.

— Mas você passou pela iminência de perder seu amigo, seu companheiro de trabalho, e ele de morrer. Encara a vida da mesma forma?

— Foi a cabeça dele que, em vez de melhorar, ficou mais atrapalhada. Caiu o helicóptero e a esperança dele. O medo que ele tinha de avião. O Marrone não entrava em elevador com mais de três pessoas. Não queria viajar de ônibus porque é fechadinho. Ele sofre de claustrofobia e fugia desse problema, até que teve que encarar mesmo o tratamento. Sempre fiquei muito em cima dele. Falo a verdade, não passo a mão na cabeça. O Marrone brigava muito comigo. A gente teve uma briga bem feia no camarim antes de ele decidir dar um tempo. Ele gritou comigo dizendo que fazia o que queria. Não admitia que estava doente, só se defendia atacando. Imagina uma pessoa criada na roça, sem conhecimento de que a mente pode adoecer. Para ele, só existia a dor física.

— Você já disse que não quer encarar uma carreira solo, mas já pensou que Marrone pode não querer voltar?

— Não passa pela minha cabeça isso. Ele gosta do palco. Se um dia ele disser que não quer mais ou que não pode, terei que começar tudo outra vez. Espero que isso jamais aconteça. Ele não vai me largar, não.

— Além de encarar a plateia sozinho, pouco antes de gravar o "Juras de amor", você ouviu do seu empresário que sua música já não era a mesma. Como foi isso?

— Quando você ouve do próprio empresário que suas músicas já não são mais como eram antigamente, para não mandá-lo para aquele lugar, deixei fazerem o que queriam. Mas, ao mesmo tempo, isso me trouxe ainda mais humildade para perceber que precisava mesmo treinar o desapego. Achei mesmo que estava me repetindo. Não quero cair no mesmo erro de outros artistas, de ter um ego acima de qualquer coisa, e não aceitar o que é novo. Quando fazemos isso, chegamos mais longe.

— Já chegou o mais longe que podia? Ainda tem sonhos de consumo, por exemplo?

— De uma boa forma, consegui realizar meus sonhos. Mas quando se tem um padrão de vida muito alto, também tem que mantê-lo, e a minha família, bota aí umas 50 pessoas, depende direta e indiretamente de mim. A despesa é cada vez maior. Meu objetivo é não depender da música para sobreviver dentro desse mesmo padrão, o que é mais difícil.

— Mas você faria o quê?

— Ah, a gente investe, né? Tento, na medida do possível, faço minhas poupanças e adquiro alguns patrimônios.

— Vocês perderam público para o sertanejo universitário?

— Não. A gente sempre cantou para a família, mas agora temos muitos jovens também. Estão lá os avós, os pais, os netos. Não que eu tenha mudado nesse disco. Mas voltei a ser eu mesmo. A gente, nessa confusão, querendo agradar a gregos e troianos, se perdeu na estrada um pouco. Eu sabia o que faltava, mas não tinha essa visão. Eu estava sem voz ativa, estava confusa a nossa carreira.

— O assédio ainda é muito grande?

— Ah, cai, né? Ainda bem que a minha mulher (Mariane) é tranquila. Outro dia, no Sul de Minas, estava de cueca no quarto, jantando antes de um show. Daí a porta abriu e entrou um cara. Perguntei o que ele queria, ele arregalou um olho, não disse nada, e veio pra cima. Tremi inteiro e não sei como o coloquei para fora. Um besta de um homem grande, não sei se era um fã. Vai que ele me segura e quer me pegar. Eu heim!

— No novo disco tem muita música de dor de cotovelo, de paixão rasgada, de reflexões sobre a vida. Tem sido mais afagado ou estapeado pela vida?
— Olha, tô tomando uns tapinhas... Estou entre tapas e beijos.

fonte:EXTRA ONLINE


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