segunda-feira, 6 de agosto de 2012

população não confia  em líderes religiosos


Com credibilidade baixa, eles ocupam a quarta posição em relação ao nível de confiança

Elton Lyrioemorati@redegazeta.com.br
Ingrediente principal da religião, a fé é definida por muitos religiosos como a confiança e a certeza de algo que não se vê. Mas, apesar de ser aclamado pelas diversas denominações como um povo crente, o capixaba não anda confiando muito no que - ou em quem - tem visto no comando dos rebanhos. 


Segundo pesquisa do Instituto Futura, a desconfiança nos padres e pastores atinge 63%, o que os coloca em quarto lugar entre os profissionais com menos confiança, ranking que é liderado pelos políticos. A descrença é maior entre os católicos, com 66,2%. No meio evangélico o percentual é de 57,2.


Na outra ponta da lista aparecem os bombeiros, como profissionais de maior grau de confiança. Em seguida, vêm os professores e os carteiros. 


Teólogo e especialista em Religião de A GAZETA, Vítor Nunes Rosa credita a queda na credibilidade à exposição de escândalos envolvendo líderes religiosos. Muitos desses episódios têm como principal ingrediente o desvio de dinheiro dos fiéis e seu uso para benefício próprio, além de casos envolvendo pedofilia.


"Se você contribui religiosamente para uma instituição e vê que aquele recurso não está bem empregado, ou confia o seu filho a ela e depois sabe que ele foi abusado, isso com certeza produz um descrédito muito grande na imagem daquela igreja ou daqueles líderes. Não é à toa que se observa o crescimento dos ateus, dos indiferentes e dos sem religião", analisa Rosa.


Exploração

Para o presidente da Associação de Pastores Evangélicos de Vitória, Abílio Rodrigues, a imagem dos líderes religiosos sofre com a atuação de pessoas que agem de má-fé, explorando a fé alheia. 



"Por causa de poucos líderes e de uma minoria que faz isso, todos acabam pagando com a credibilidade. A maioria das lideranças, sejam padres ou pastores, é de confiança e de boa índole", defende. 


Rodrigues afirma que cada vez mais a confiança dos fiéis nos padres e nos pastores depende da postura dessas lideranças. "O povo observa com quem a gente anda e com quem a gente faz alianças e, a partir daí, tira suas próprias conclusões", aponta.


Ele também defende que o próprio povo separe as lideranças, dando as costas para os que agem de má-fé. Para o pastor, a crescente desconfiança deve levar à reflexão. "Precisamos voltar a conquistar o respeito que as pessoas tinham antigamente", defende ele.


Apesar de o percentual de descrença entre os católicos ser mais expressivo, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória, dom Joaquim Vladimir Lopes Dias, afirmou que não nota uma falta de confiança. 

Só Jesus Cristo



Segundo ele, notícias de escândalos não abalam a imagem perante os fiéis. "Se as pessoas escutam esse tipo de coisa, o que fazem é rezar pelo bispo ou pelo padre, mas não abandonar a Igreja. A gente sabe que o único santo é Jesus Cristo e que os homens podem errar", destaca. 


Dom Vladimir enfatiza que os fiéis – sejam católicos ou evangélicos – não devem deixar suas igrejas por causa desses episódios. "Têm que se voltar para Deus independentemente das lideranças."


Quanto ao que poderia ser feito pelas igrejas para reverter o descrédito, Vitor Rosa aponta que um dos passos seria a melhor seleção dos quadros. "É preciso garantir uma boa formação intelectual, afetiva e moral. Também deveria ser realizado um trabalho forte de fiscalização legal e contábil do trabalho das igrejas."

Info - confiança da população nos religiosos
Análise
"Na mesma vala dos políticos"


Os números estão relacionados ao quanto a população acredita nas instituições que deveriam lhe proteger. Com o decorrer do tempo, muitas delas vêm perdendo sua credibilidade, como acontece, por exemplo, com a política, pelas notícias que se vê das CPIs; ou até mesmo com a polícia, com as recentes notícias de corrupção e de ações equivocadas. É uma credibilidade que oscila. Hora uma profissão tem, hora ela perde. Os líderes religiosos estão na mesma vala dos políticos com os anúncios ou denúncias a respeito da gestão dos recursos e do dinheiro público, ou dos fiéis. Do outro lado, com o Corpo de Bombeiros, por exemplo, não há uma imagem que a corporação esteja envolvida com corrupção ou que rejeite salvar vidas. É bem verdade que esses dados não significam que as classes sejam todas uniformes, como, por exemplo, que todos os políticos mereçam a desconfiança e que os bombeiros sejam todos 

de confiança. 


Erly dos Anjos, sociólogo

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