terça-feira, 26 de julho de 2011

Máfia do carvão explora trabalho infantil no Norte do Estado

TV Vitória

Foto: Reprodução TV Vitória

Um verdadeiro mergulho no submundo do crime organizado. Foi o que o jornalista Alex Cavalcanti, da Rede Vitória, fez ao percorrer os caminhos de uma das maiores organizações criminosas do Estado. Exploração infantil, trabalho escravo, tráfico de drogas, crimes ambientais e sonegação fiscal são revelados nos bastidores de um universo quase infinito de crimes.

Durante vários meses, a equipe da TV Vitória registrou uma verdadeira indústria do crime. Por trás de um esquema bilionário, que enriquece alguns poucos, existe uma teia criminosa, que vai da exploração infantil ao tráfico de drogas, do trabalho escravo à sonegação fiscal, e que deixa para trás um rastro de milhares de vítimas.
Vítimas como dois meninos, de apenas oito anos, que já precisam lutar pela sobrevivência e ajudam as famílias a produzir carvão. Um trabalho duro, cansativo, que compromete a saúde e o desenvolvimento. Sem folga, eles passam o dia inteiro nos fornos, que tem o tamanho exato para uma criança. Um dia inteiro de trabalho rende para esses meninos pouco mais de R$ 7. "Para fazer esse forno eles trabalham mais ou menos um dia para ganhar R$ 13, que dá menos de R$ 7 para cada menino", disse um trabalhador.
A fumaça negra leva embora a infância, os sonhos e a saúde. O decreto número 6.481, de 2008, aponta o trabalho em carvoarias como uma das atividades mais perigosas e prejudiciais para crianças e adolescentes. "Você não percebe, mas ao ser queimada, a madeira vai soltando partículas que vão se instalando dentro da estrutura pulmonar e também nos brônquios, que podem gerar futuramente algumas doenças como a fibrose pulmonar. Depois de instalada, é como se o pulmão fosse se tornando um pulmão de pedra", explicou a pneumologista Cinéia Martins.

Enquanto a lenha vira carvão, eles tentam ser meninos comuns. O futebol é a única diversão e a bola é improvisada com uma sacola plástica cheia de palha. Não sobra dinheiro para comprar brinquedos. E essa família é apenas uma, entre centenas que são exploradas pela máfia do carvão. Elas são o elo mais fraco de uma cadeia criminosa, que se espalha pelo norte do Espírito Santo, sul da Bahia e leste de Minas Gerais. 

Foto: Reprodução TV Vitória

Tudo começa com o roubo de madeira. A mata atlântica já foi o alvo principal, mas atualmente, é nas plantações de eucalipto que os carvoeiros clandestinos buscam a matéria prima. Eles invadem áreas de plantio, destinadas à produção de celulose, e retiram toda a madeira que precisam. Um processo que não respeita nem a propriedade, nem o meio ambiente. Para facilitar o corte, os carvoeiros queimam a plantação. Depois de queimadas, as árvores perdem as folhas e ficam mais fáceis de cortar.

Flagrar o corte da madeira é uma operação de risco. Durante a investigação, a equipe da TV Vitória precisou manter distância. Os clandestinos não são tolerantes com quem tenta atrapalhar seu negócio. Um segurança, que prefere não ser identificado, sabe bem disso. Há alguns meses, ele tentou impedir o corte ilegal, mas foi rendido pelos carvoeiros.

"Saíram mais de 40 homens e vieram na nossa direção. Alguns estavam com facão e outros, com motoserra. Eles começaram a fazer ameaças. Um homem abriu o tanque da motoserra e jogou gasolina sobre o carro e depois ateou fogo no veículo todo", contou o segurança.

Outro segurança passou por situação ainda pior. Em fevereiro deste ano, um grupo de carvoeiros foi detido no momento em que invadia uma área particular. Em represália, o segurança foi seqüestrado e levado para um cativeiro. Ameaçado, o homem, que tem dois filhos, foi usado como moeda de troca pelos criminosos. Só foi libertado depois que a queixa foi retirada e os suspeitos liberados. 

"Me cercaram com dois carros, me pediram para sair do carro e entrar no carro deles. Me levaram até uma comunidade chamada Paraíso e lá várias pessoas da comunidade partiram para cima de mim, me ameaçaram, falaram que iriam me bater e me matar. Fiquei aproximadamente umas quatro horas refém dessas pessoas", disse o homem que não quis ser identificado.

A madeira cortada é levada para carvoarias clandestinas, espalhadas pelo norte do Espírito Santo e sul da Bahia. Sem fiscalização, os caminhões circulam livremente até por rodovias federais. São Mateus e Conceição da Barra, no Espírito Santo, e o sul da Bahia, até de Teixeira de Freitas, concentram a maior parte das carvoarias. Em alguns casos, pequenos proprietários de terras são constrangidos a ceder as propriedades para instalação dos fornos. E não podem sequer determinar o preço do produto. "O preço é esse que está. O preço é deles e a medida também é deles", comentou um trabalhador.

Em outros casos, empresas de fachada adquirem ou alugam terras e instalam as carvoarias. Em comum, o uso de madeira roubada e a exploração de trabalhadores. Em uma área, que pertence a uma empresa que afirma trabalhar com resíduos florestais, nossa equipe encontrou milhares de toras de madeira escondidas atrás de uma pilha de gravetos. Uma estratégia para driblar a fiscalização. Algumas empresas chegam a usar caminhões sem placas para transportar o material. Após rodar um pouco a equipe localizou uma carvoaria em pleno funcionamento próximo a BR-101, em Conceição da Barra, e tentamos nos aproximar.
Não demorou, para que a proprietária aparecesse gesticulando e mandando a equipe ir embora. Mas antes de sair, a reportagem da TV Vitória ainda flagrou outra cena. Um caminhão, que deveria servir ao DER, descarregando uma carga de barro, material usado na construção dos fornos.

A Polícia Rodoviária Federal afirma que fiscaliza o transporte de madeira nas rodovias do Espírito Santo, em conjunto com os órgãos ambientais, Receita Estadual e Federal. No entanto, o trabalho fica prejudicado por conta da origem das notas fiscais e das guias de trânsito. A PRF informa que os documentos podem ser originais, mas com informações falsas, impossibilitando a PRF de verificar se a madeira é legal ou não.

Já o Departamento de Estradas e Rodagens disse que o caminhão que aparece na imagem não presta serviços para o órgão no município de Conceição da Barra e que já notificou e determinou que sejam retirados os adesivos dos veículos que não estejam atuando em obras contratadas pelo departamento. O DER afirma que não é responsável pela utilização dos veículos quando estes não estiverem prestando serviços ao órgão.

Nesta terça-feira você vai acompanhar mais detalhes sobre a denúncia da Máfia do Carvão e conhecer as condições de vida dessas pessoas exploradas. Vai ver que o crack já é usado como moeda de troca no mundo do carvão e vai saber também como é o trabalho da polícia para tentar impedir o avanço destes crimes.

fonte:Folha Vitória

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