Pacificação da Rocinha começou há dez dias por ação do BOPE em Macaé
Marino Azevedo / Imprensa Rio
Preocupação é que membros da facção fujam para o município
A pacificação da comunidade da Rocinha teve início há dez dias, quando o BOPE iniciou uma operação na comunidade das Malvinas, em Macaé. De acordo com o superintendente da Polícia Federal, Valmir Lemos, e o comandante do Estado Maior da PM do Rio, coronel Alberto Pinheiro Neto, a ocupação só foi possível após a quebra da conexão entre Rocinha e Macaé.
Na Malvinas, três homens foram mortos no dia do aniversário de Sandro Luís de Paula Amorim, o Foca ou Peixe, que foi capturado esta semana, quando deixava a Rocinha sob escolta de policiais. Peixe era o sucessor de Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, morto em 2010. "A droga produzida na Rocinha era vendida com exclusividade em Macaé, a conexão entre as duas quadrilhas é muito lucrativa", disse o superintendente da Polícia Federal.
A EMPRESA DO TRÁFICOA ocupação vai abalar uma verdadeira empresa do crime organizado. Com negócios diversificados, bons salários e faturamento semanal de R$ 2 milhões, a "Rocinha S/A" já era uma das bocas de fumo mais rentáveis do Rio desde a década de 1980. Mas a partir de 2007 viu suas transações se multiplicarem.
A virada começou um ano antes, bem longe dali, em algum barraco na Favela das Malvinas, em Macaé, onde Roupinol aprendeu a refinar cocaína. No ano de 2006 ele faturou R$ 1 milhão, em 2007, após ter a refinaria estourada, refugiou-se no Morro do São Carlos, na zona norte carioca, dominada pela facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), a mesma que controlava a Rocinha.
No São Carlos, a técnica de Roupinol encantou os chefões, que logo o enviaram para a Rocinha. Sua missão era turbinar os ganhos na "joia da coroa" do tráfico. Em agosto de 2007, a polícia estourou a primeira refinaria na Rocinha e prendeu Leonardo Assunção, de 27 anos, o Português ou Químico, um dos responsáveis pela produção. Era tarde. Naquele momento, a Rocinha já contava no mínimo com três outras refinarias em funcionamento nas localidades da Cachopa, do Terreirão e na Rua 2, conforme denúncias feitas pelo Ministério Público em novembro do ano passado.
Com o faturamento da Rocinha, o chefe do tráfico local, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, dispunha de dinheiro para resolver o aspecto mais complexo do refino: a compra de produtos controlados, como ácido sulfúrico, ácido clorídrico, éter, álcool PA e acetona. Entre 2007 e 2009, Nem gastava quase R$ 10 mil cada vez que precisava adquirir os produtos controlados. Ele pagava R$ 45 para 213 moradores, arregimentados nos locais mais pobres da favela, comprarem 2 litros de produtos controlados cada, de acordo com o MP.
O pagamento de bons salários, aliás, é característica do tráfico da Rocinha. Enquanto em outras favelas os jovens ganham no máximo R$ 50 por semana para embalar maconha e cocaína, a Rocinha paga R$ 200 aos "endoladores", geralmente homens desempregados arregimentados por Renato Sabino Gonçalves, o Pará, conforme consta em inquérito da 15.ª DP (Gávea). Na refinaria, os salários são mais altos e chegavam a R$ 1.500 por semana para as 15 pessoas, cuja produção por quinzena poderia render 250 quilos de cocaína.
Neste domingo, além de toda ação para ocupação da comunidade, existe também todo um trabalho da Polícia Rodoviária Federal (PRF), nas rodovias, para evitar possíveis fugas de membros do tráfico, que podem seguir principalmente para Macaé, para tentar se abrigar nas comunidades que tem conexão com a facção de Nem.
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