Garotinho aponta 2012 como ensaio para sua candidatura a governador
POR ROZANE MONTEIRO
Rio - Podem falar qualquer coisa do deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho — e há quem fale —, menos que ele deixa pergunta sem resposta. Nesta entrevista a O DIA, o cacique do PR fluminense conta como está articulando para seu partido eleger pelo menos 30 prefeitos no estado este ano e diz estar convencido de que o prefeito Eduardo Paes não será reeleito. Sobre seu próprio futuro, Garotinho admite que 2012, no fundo, no fundo, há de ser ensaio para sua candidatura a governador em 2014. “A farsa vai ser revelada a partir desta eleição municipal”, avisa, enigmático.
O campista foi governador do Rio de 1999 a 2002 | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
ODIA: O que levou o senhor a se aproximar do ex-prefeito Cesar Maia (DEM) e anunciar no ano passado a intenção de lançar seus filhos (Clarissa Garotinho e Rodrigo Maia) como uma opção para montar uma chapa adversária ao prefeito Eduardo Paes (PMDB) nas eleições deste ano?
GAROTINHO: – Nós organizamos o PR para disputar eleição de uma forma competitiva no Estado. Fora o partido do governador (PMDB), nenhum outro partido tem a competitividade que o nosso tem. Eu digo ‘partido do governador’ porque ele não tem partido. Ele tem partido porque está no governo, senão ele não conseguiria montar candidaturas. Restaram duas estruturas fortes no estado — a do governo, que só é o que é porque é governo — e a nossa. Então, nós procuramos não disputar esta eleição isolados.
Por que não teriam força?
Porque, do outro lado, existe um grupo enorme de partidos que foram cooptados por empregos, por favores, por negócios... dinheiro, né? Então, nós não podíamos disputar uma eleição dessas sem tempo de televisão, que é fundamental para nossos candidatos.
Mas os senhores já foram adversários ferrenhos. A política é assim?
Eu e Cesar Maia temos diferenças, temos sim. Nós não escondemos isso, não. Continuamos tendo. Veja bem, na política, a gente tem que superar as diferenças que existem com os nossos adversários em função dos momentos históricos que nós vivemos. Por exemplo, veja a grandeza de (Luiz Carlos) Prestes, num momento da História, depois de ter tido um problema seriíssimo com o (presidente Getúlio) Vargas, que foi a questão da mulher (Olga Benario Prestes). Em nome do interesse maior do povo brasileiro, ficaram juntos. [Depois de ver sua mulher, judia, ser entregue por Vargas ao governo alemão na década de 1930, Prestes apoia sua campanha a eleição para presidente em 1950 ].
O senhor acha bonito o Prestes ter ficado do lado do Vargas depois de o presidente ter entregado a mulher dele aos alemães?
Não. Mas o Prestes entendeu que, naquele momento, era importante para o Brasil a união dele com Vargas. Então, eu continuo entendendo que o Cesar Maia tem uma posição mais liberal que a minha. Eu não sou um liberal.
Falamos de economia?
Não. Liberal, como uma posição política. Eu não sou. Sou um trabalhista, um nacionalista. Ele não é. Ele é um liberal. Mas isso não é algo que seja maior do que a necessidade de banir do Rio de Janeiro essa coisa oca, sem conteúdo que é um conjunto de gente interesseira, negociante, que vem tratando a coisa pública do estado e no município como se fosse uma coisa sua, pessoal.
Quando o senhor fala “negociantes”, o senhor está se referindo a quê?
A tudo. Por exemplo: os carros da polícia terceirizados com preços superfaturados; o aluguel de ar-condicionado para as escolas estaduais, absurdo; o aluguel de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento)... Eu poderia citar aqui pelo menos 10, 15 exemplos de grandes negociatas feitas no governo do estado por esse grupo que está aí...
Como provar?
Está mais do que provado. Está tudo provado.
O povo tem a percepção disso?
Não. Com raríssimas exceções, Cabral comprou a mídia do Rio de Janeiro.
Não me inclua, por favor.
[Pausa para elogios à comida servida, buffet árabe, especialidade preferida do deputado].
Mas, voltando aos “jornalistas comprados”, eu — que não sou “comprada” —, pergunto ao senhor : como provar esta afirmação?
Imagine que qualquer outro político tenha dito que as mulheres que moram na Rocinha são fábricas de marginais, que os médicos são vagabundos; que tivesse mandado prender 439 bombeiros de uma vez só, o que nem a ditadura fez... O que teria acontecido com esse político? Estaria execrado.
Voltando ao DEM... O senhor falou que seria interessante ter tempo na TV. Com a aliança, em quanto aumenta esse tempo?
Dobra. Passa de dois e pouco para quase cinco minutos.
Como foi essa aproximação com o DEM?
Um tempo atrás, o Rodrigo (Maia) me procurou em Brasília, almoçamos, e ele disse: “Olha, a visão do papai é a seguinte: que a gente, sem estar unido, vai ser muito difícil derrubar essa máquina que envolve dinheiro, poder, mídia, e que ele achava muito importante e necessário que nós sentássemos para conversar.” Falei: “Marca dia e hora.” Então, Cesar Maia marcou um encontro na casa dele e perguntou se eu iria lá. Eu disse: “Não sou uma pessoa intransigente de não sentar para conversar com ele.” Sentei na casa dele. Aí, o Cesar fez uma análise e falou: “O nosso partido está muito fragmentado no interior, ao contrário do seu grupo político. Então, a nossa proposta é a seguinte: a gente indica a cabeça de chapa na capital e mais um ou outro município, mas muito pouco. E vocês ficam com o resto do estado todo.” Eu achei que, para os nossos candidatos — várias cidades têm televisão como Volta Redonda, Campos, Macaé e outras regiões importantes do estado —, ter um partido onde a gente poderia montar uma boa nominata de vereadores e ainda ter tempo de televisão era uma boa. Mas eu fiz questão de perguntar: “E o projeto para frente?” Ele perguntou: “Para frente como?” Eu respondi: “Depois dessa eleição. Eu posso ser candidato a governador, né? Não estou dizendo que vou ser, é uma hipótese bem provável.” “Bom, se você for candidato a governador, nós estaremos com você”. “Está bom. Está fechado?” “Está fechado.” Passamos um primeiro momento, as coisas foram evoluindo, tivemos várias reuniões. Mas eu ainda acho que, melhor que a candidatura do Rodrigo, é a candidatura do Cesar Maia.
A vereador?
A prefeito. Eu defendo que ele (Cesar) seja candidato a prefeito. Ele ainda está resistente, mas acho que, no final, a disputa no Rio vai ser entre quatro candidatos: Eduardo Paes, Fernando Gabeira (PV), Cesar Maia e Marcelo Freixo (PSOL). Esses quatro candidatos vão fazer uma eleição disputadíssima na cidade do Rio de Janeiro. Aquilo que hoje o PMDB tenta passar como uma barbada vai ser uma eleição muito difícil. Quando você faz uma pesquisa e coloca Eduardo Paes com o cenário do Rodrigo Maia, (o deputado federal do PSDB) Otávio Leite e (o senador do PRB, Marcello) Crivella, ele dá 36%. Quando você faz uma pesquisa e coloca Eduardo Paes, Cesar Maia, Gabeira e Marcelo Freixo, ele dá 25%, Gabeira, 20%; Cesar Maia, 15%; Marcelo Freixo, 12%.
Com o DEM, no cenário de agora, há uma chance de minar Eduardo Paes?
Eu tenho absoluta certeza de que neste quadro de candidaturas — Eduardo Paes, Cesar Maia, Fernando Gabeira e Marcelo Freixo —, o Eduardo Paes vai para o segundo turno com um dos três e perde.
Então, essa história de Rodrigo com Clarissa contra o Paes é balão de ensaio?
Isso é o que está posto hoje. Mas a eleição não é hoje. A definição de candidatura também não é hoje. Eu vou continuar trabalhando dentro daquilo que eu acredito ser o melhor para a nossa visão política.
Isso é uma preparação para a candidatura de Cesar Maia?
O que eu estou te dizendo é que eu vou sensibilizá-lo e tenho certeza de que o próprio Gabeira, ao não sair do PV, acompanhando a Marina (Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata à Presidência da República pelo PV), deixou uma porta aberta para ser candidato. Se o Cesar Maia e o Gabeira forem candidatos, o PMDB perde a eleição no Rio.
Qual o Calcanhar de Aquiles do Paes?
Saúde. A saúde do governo dele está na CTI.
O povo percebe isso?
Percebe. Porque este fato é, assim, muito visível. É muita gente nesse embate diário, batendo na porta de pronto-socorro que não tem remédio, médico, atendimento... Eu acho assim: nós nos preparamos para fazer com nosso grupo 30 prefeituras no estado. Achamos que o PMDB vai começar a diminuir e voltar para o seu tamanho normal, que é, nesse primeiro momento, em torno de 30, para depois encolher e voltar para o seu leito natural. Eu acho que o PMDB vai encolhendo, vai perdendo espaço. Eles vão voltar a ser um partido pequeno no estado. Sabe por quê? Porque tudo que não tem consistência desmancha no ar. A farsa vai ser revelada a partir desta eleição municipal.
Há algum município do Estado do Rio em que o PR esteja liberado para fazer aliança com o PMDB?
Nós não vamos apoiar o PMDB em cidade nenhuma.
Esse quadro não muda de jeito nenhum?
Não muda.
A campanha de 2012 é para preparar o PR para a disputa pela sucessão do governador Sérgio Cabral?
A campanha de 2012, na verdade, vai consolidar o processo de reestruturação do PR no Rio de Janeiro. Este ano vai servir para pavimentar essa consolidação do partido em um âmbito estadual. Vamos poder aparecer na TV, falando de projetos já realizados pelo partido e por mim, como governador e como deputado federal, também saindo em defesa dos candidatos que a gente entende como sendo os melhores para a população. Então, a campanha de 2012 pavimenta, consolida a reestruturação do PR como uma legenda importante no estado. É uma campanha muito importante, sobretudo em função das eleições de 2014.
Depois do tempo que o senhor passou no comando deste estado, o que ficou no imaginário do cidadão fluminense com relação ao senhor?
Olha, eu saí do governo do estado para ser candidato a presidente. Tive quase 16 milhões de votos. Ganhei no Rio de Janeiro, tive mais voto do que o Lula. Rosinha (Garotinho, mulher do deputado) foi eleita (governadora, em 2002) no primeiro turno. Bom, como é que eu posso ter sido mau governador se o povo votou maciçamente em mim para presidente e elegeu a minha candidata — minha esposa — no primeiro turno? Claro, depois, foi feito todo um processo de massacre, de lavagem cerebral na cabeça da população para jogar parte da população contra mim. Por quê? Porque eu não sou um político que faça o jogo das elites políticas. Eu não sou um político, assim, confiável ao controle das elites. Se, numa eleição para deputado federal, eu faço 700 mil votos — a maior votação que um deputado federal já teve na História do Rio de janeiro —, as pessoas dizendo que não adiantava votar em mim, que o voto não ia valer, me acusando de tudo o que se pudesse imaginar, tem uma parte expressiva da população que não engoliu isso.
O senhor seria candidato a presidente da República de novo?
Sou professor de escola bíblica. A Bíblia manda a gente viver um dia de cada vez. Então, vamos viver o dia de hoje.
Isso é sim ou não?
Nem sim, nem não.
Quem seria o vice no caso de o senhor ser candidato a governador?
É muito prematuro isso. Agora é hora de organizar o partido e ganhar as eleições municipais. Consolidadas as eleições municipais, vamos partir para a eleição estadual. Mas primeiro temos que viver este momento.
No início do ano, em entrevista a O DIA, ao comentar sua aliança com o Cesar Maia, o prefeito Eduardo Paes respondeu: “Eu não perco um minuto da minha vida com nenhum dos dois.” O que o senhor tem a dizer sobre isso?
É uma frase de efeito e nada mais. Eu, se fosse ele, perdia um pouco de tempo comigo porque eu fui o deputado federal mais votado na cidade do Rio de Janeiro. Eu tive 177 mil votos na cidade, o dobro do candidato que ele apoiou que foi o secretário (Casa Civil) dele, o Pedro Paulo. Se você não quer perder um minuto com o deputado federal mais votado da cidade que você governa, no mínimo, você é mau político.
Sobre o que é o livro que o senhor está acabando?
É um livro de mensagens. Eu pego um versículo bíblico e desenvolvo, faço uma mensagem para a pessoa. O livro é isso. Em cima de cada mensagem, eu conto uma história. Por exemplo, tem o versículo “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Aí, eu falo o que é a verdade. No fim, ilustro com uma história.
Falando nisso, o senhor teria um versículo para o prefeito nesta eleição?
Um versículo bíblico?
Sim.
Para o Eduardo Paes?
Claro.
“A soberba precede a ruína.”
‘Sempre fui o mesmo: trabalhista, nacionalista e popular’
Aos 51 anos, Anthony Garotinho já passou pelo PT, PDT, PSB, PMDB e hoje está no PR. A quem lhe pergunta se as mudanças de partido significam que ele muda de opinião com muita facilidade, ele responde rápido:
“Eu nunca mudei de opinião. Eu sempre fui o mesmo: trabalhista, nacionalista e popular. Os partidos no Brasil é que mudam muito. No PDT, eu estaria até hoje não fosse aquela covardia que fizeram para me afastar do maior homem público que já conheci, Leonel Brizola.”
Garotinho se refere a intrigas que, em sua versão, fizeram parecer que ele não estava apoiando a candidatura de Brizola para a Prefeitura do Rio por traição, o que levou à saída do deputado do PDT em 2000.
“Mas eu tenho uma alegria no meu coração. Depois, nós nos reconciliamos”, conta. Garotinho, sua mulher e filha estavam entre as últimas pessoas que estiveram com Brizola um dia antes de sua morte, que foi em 26 de junho de 2004. Naquele dia 25, Clarissa tentou fazer uma foto do grupo com o pedetista, mas ele pediu para deixar para depois porque estava de pijama. Não houve depois.
Garotinho guarda a lembrança de que Brizola, depois da reconciliação, chegou a falar que era o campista quem tinha “que levar esse partido para frente”. Brizola lamentava ter sido traído por pedetistas que abandonaram o partido.
Cesar Maia, que deixou o PDT em 1991, estava entre eles, deputado?
“Vamos deixar para lá.”
fonte:odia.ig.com.br
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