domingo, 29 de janeiro de 2012


Mulheres invadem cada vez mais redutos que eram só masculinos


Por: Natália Kleinsorgen 
A motorista de ônibus Rosângela de Oliveira adora sua profissão, apesar dos ciúmes do marido. (Foto: Marcio Oliveira)

Psicanalistas analisam o avanço da mulher e constatam que a masculinidade está falindo e a nova concorrência proposta aos homens os deixa inseguros

Uma recente fala da psicanalista Maria Rita Kehl levantou a discussão sobre a possível crise da masculinidade. Com o aumento da participação feminina em lugares públicos antes ocupados apenas por homens, a profissional acredita que houve mudanças também no relacionamento interpessoal das partes, gerado a partir de um mal-estar do gênero masculino. Para o psicanalista Felipe Pena, a nova concorrência proposta aos homens os deixa inseguros ao verem as mulheres se tornando independentes.
“Eles percebem que são incompetentes para atender todas as demandas e, como consequência, surge a crise do ser masculino”, explica Pena.
Enquanto elas se tornam mais fortes a cada conquista, eles se abalam com a contestação de antigos valores enraizados. O profissional acredita que essas alterações foram, na verdade, benéficas para ambos os sexos.
Felipe afirma que a masculinidade está fadada ao fracasso e que a instabilidade nos relacionamentos gerada a partir do avanço social da mulher tem solução. De acordo com ele, os casais se organizarão de maneira próspera sob duas condições. Primeiro, a consciência do homem; segundo, a compreensão mútua dos novos papéis.
“Se isso ocorrer, ambos perceberão que as transformações são boas para todo mundo. Dois provedores no lar, duas presenças fortes na criação dos filhos: apenas pontos positivos”, defende.
O segundo marido de Rosângela de Oliveira, de 40 anos, não gosta muito do fato de terem a mesma profissão: motoristas de ônibus. Mas ela não liga, diz com orgulho que pilota muito bem o fogão e o veículo. Vinda de São Paulo, ela teve que deixar de ser doceira para conseguir viver bem em Neves, bairro de São Gonçalo.
Sabendo que apenas uma renda não seria suficiente para sustentar a casa, ela nem pensou duas vezes quando viu um anúncio sobre vagas de motoristas, há pouco mais de um ano. Os dois trabalham em turnos diferentes. Ele sente ciúmes, mas não é para menos. Rosângela é muito vaidosa e conta incansáveis casos de “xavecos” que recebe quando está na direção.
“Sinto que, trabalhando, estou em uma posição privilegiada, de destaque. Andando a pé pelas ruas não recebo nem metade das cantadas que escuto ao volante, mas ninguém falta com respeito. O homem está aprendendo a aceitar a mulher onde quer que ela esteja”, acredita.
Com 13 anos de namoro, a jornalista Flavia Mariano mora sozinha até hoje e garante que seu namorado adora que tenham vidas independentes uma da outra. Ela viaja sozinha e com as amigas, trabalha, toma conta da casa e entende que nem sempre os relacionamentos se constroem com esta cumplicidade.
“Geralmente os homens querem que as mulheres fiquem mais próximas, mais sob controle, principalmente em início de relacionamento ou casamento. Vejo muitas amigas passando por isso”, diz.
Tempo apenas para se dedicar ao trabalho
O caso de Luciana Sant’Anna é diferente. A empresária de 28 anos não se relaciona com ninguém atualmente por falta de tempo, dedicado exclusivamente ao trabalho. Sócia de uma agência de marketing digital, ela acumula funções de gestora de produção, relacionamento e planejamento estratégico; às vezes, nem a família ela consegue conciliar.
“Meu status social é ‘sem tempo para status social’. Como proprietária, eu não descanso nenhum dia, trabalho de domingo a domingo mesmo, e isso me afasta deles e também da possibilidade de ter um relacionamento”, diz ela.
Para Luciana, que nunca sofreu preconceitos por ser mulher na sua área de atuação, é necessário se impor e investir no próprio estilo de trabalhar.
“Sei que existe machismo, mas não há outra forma de passar por isso senão mostrando competência, e não tentando agir como um homem. O instinto feminino, por mais clichê que isso pareça, é uma arma fundamental para chegar à liderança”, acredita.

O FLUMINENSE

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