terça-feira, 30 de março de 2010

Segundo várias pessoas que conversei essa semana, jura ter visto um lobisome ,será que esse bicho existe?
LOBISOMEM


A história de homens que se transformam em lobos é muito antiga. Na Grécia Antiga, o mito do homem-lobo, proveniente de épocas pré-históricas, se ligou a religião do Olimpo. Conta-se que Licaon, rei de Arcádia, filho de Pelagro, primeiro soberano da região, tentou matar Zeus, seu hóspede de uma noite. O Deus castigou-o dando-lhe a forma vulpina. Nenhum erudito conseguiu explicar a fábula. Nem mesmo esta se reduz a uma só versão. Em outras lendas Licaon fez um sacrifício humano e sua metamorfose significa a cólera divina. Também Licaon levou à mesa, onde Zeus era servido, carne humana. Ainda, segundo Pausanias, Licaon sacrificou um filho de Zeus no monte Licaeus. O final é idêntico. O rei se transforma, e para sempre, em lobo.

Daí passou à Roma, e da Cidade dos Césares com seus exércitos conquistadores se difundiu pela Europa, pelo norte da África e Oriente próximo.

Com os nomes de "Versipélio dos Romanos, é o Licantropo dos Gregos, o Volkodlák dos eslavos, o Werwolf dos saxões, o Wahrwolf dos germanos, o Óboroten dos russos, o Hamtammr dos nósdicos, o Loup-garou dos franceses, o Lobisomem da Península Ibérica e da América Central e do Sul, com suas modificações fáceis de Lubiszon, Lobisomem, Lubishome..., é, sempre, a crença na metamorfose humana em lobo, por um castigo divino.

No imaginário medieval europeu, os feiticeiros se transformavam em lobos para comemorarem os sabaths. As feiticeiras, por sua vez, usavam ligas de pele de lobo.

O lobo é um grande carniceiro que devora a matéria e o mundo. Mas este seu simbolismo de destruição e de devoração nos leva à concepção antagônica de renascimento e renovação. Só através da morte é que se renasce para uma nova vida. A planta brota do grão, somente depois que este se decompõe no seio da terra. A morte é portanto, o nascimento do novo.

Este animal também está ligado as trevas, possuindo a fama de ver à noite. Como Senhor das Trevas ele é seu guia e antídoto, pois pela sua devoração, antecipa o retorno da luz. Apresenta ainda, à associação com a "goela", imagem arquetípica e iniciática. O poder de sucção desta região está mitologicamente simbolizado pela sua força que alicia e domina o ser humano, a vida, a pessoa e a consciência, de que ninguém consegue livrar-se. A goela do lobo é a noite, as trevas, a caverna dos Infernos, mas a libertação da goela, é a aurora, a luz iniciática sucedendo à descida aos Infernos.

O sentido iniciático da "goela do lobo", dá a este animal o papel de psicopompo. Na mitologia egípcia, Anúbis tem a forma de um cão selvagem ou lobo. Em Cinópolis, era venerado como deus dos Infernos.

CARACTERÍSTICAS DO LOBISOMEM

Contam as lendas que ser lobisomem é questão de destino, qualquer criança incestuosa, como também o filho de uma comadre com compadre ou padrinho com afilhada, podem vir a ser um. Nos pampas gaúchos, corre a história de que se o sétimo de um casal se deitar em algum lugar que o bicho ocupou, torna-se igual a ele. Há quem diga, que para ser lobisomem, basta ser o sétimo filho (caçula) de um casal ou o oitavo filho homem depois sete filhas mulheres.

Em Santa Catarina, afirma-se que, se nasceram, consecutivamente, numa família, sete filhos varões, o último deve ser chamado Bento, caso contrário vira lobisomem.

Na zona do brejo paraibano descrevem-no como um homem normal que, em certas horas, e em dias determinados e sob determinadas circunstâncias, toma o aspecto de um animal e sai a correr o fado, cumprindo o castigo imposto pela Divina Providência pelo pecado de adultério de compadre com comadre, de devota com padre, dos incestuosos e blasfemos... O povo simples e crédulo, em geral, sente pena deles, por considerá-los, antes de mais nada, pecadores em penitência.

Todo sertanejo sabe que o lobisomem é um sujeito doente, muito pálido e meio avesso ao trabalho, fatigado nos modos e meio misteriosos nos movimentos. Não se alimenta bem, Vive quase do vento, mas não morre facilmente.

COMO SE APRESENTA?

Na mitologia brasileira, o lobisomem apresenta-se como um grande cão negro, possuidor de olhos aterrorizantes vermelhos, com orelhas e unhas enormes. Já foi visto também, lobisomens com características de porco, com o corpo todo coberto de pelos e a cara lupina com grandes caninos projetados para fora da boca.

As formas, portanto, podem variar e em Santa Catarina apresenta-se como um homem de olhos afogueados, pelo eriçado, ventre aberto e sangrando, unhas aguçadas e expele fogo pela boca.

No sertão da Paraíba é um bezerro negro, que ostenta um couro cabeludo de fazer cachos, além de cascos pequenos, olhar fuzilante e dotado de força e agilidade extraordinária. No Rio Grande do Sul apresenta-se como um cão grande. Na forma de porco é assinalado em São Francisco do Sul e em Biguaçu, na orla litorânea catarinense. No entanto, em Caçador, no oeste catarinense, é um horrendo lobisomem-dragão, com cerca de três metros de comprimento, tem dorso de dragão e formidável boca provida de agudíssimos dentes. Pelas ventas dilatadas lança um bafio nauseabundo.

ENCANTAMENTO

O mito em algumas regiões brasileiras mantém uma tradição: sua transformação ocorre sempre sexta-feira, em noite de lua cheia. Ele procura uma encruzilhada, despe-se e joga-se ao chão, rolando na poeira até transformar-se em homem-lobo. Da meia-noite até as duas da manhã, ele visita sete cemitérios, ou sete vales, ou sete outeiros, ou sete encruzilhadas. Como ele precisa de sangue, ao transformar-se, sai à cata de algum leitãozinho, um cachorro ou criança de colo.

Na Paraíba há três versões que nos foram apresentadas. Vejamos a primeira:

"...Se torna preciso encontrar uma encruzilhada, cheia de mariscos de praia, onde se despe, dando vários nós na camisa e no lenço." Deita-se no chão, espojando-se como quadrúpede. Uns dizem que ele engole os mariscos do mar. Outros contestam essa versão. Depois entra a fazer desarticulações com as pernas e braços, encostando a cabeça aos pés, remexendo-se para direita e esquerda, dizendo palavras à toa.

Versão idêntica a essa ocorre no litoral pernambucano. Entretanto, diferente de todas as versões que confrontamos é esta colhida no brejo paraibano:

"...Rebolando-se o aspirante na cama de um animal, ainda quente do corpo deste, cuja forma tomará. É condição imprescindível para a transformação que, no momento, os raios da lua incidam diretamente sobre o homem que estiver deitado na cama de irracional, manifestando-se, de início, pelo crescimento das unhas e cabelos, seguindo da fisionomia com o crescimento dos dentes que dão perfeita semelhança com o animal modelo."

E, por fim, a versão do sertão paraibano:

"Sai de casa à procura de algum recanto de estrada onde se deite. Espoja-se, requebra-se todo, fazendo trejeitos até virar um bezerro negro de longas orelhas."

Em Pernambuco é o mesmo cenário até "encontrar com um lugar onde um cavalo ou um jumento se espojou, espoja-se também, tomando a sua forma."

E, finalmente, na terra alagoana, se completa o "encantamento" quando tira a camisa fora do corpo e dá 7 nós. Esconjura Pai, Mãe, Padrinho, Madrinha, o nome de Deus e de Nossa Senhora.

O DESENCANTAMENTO

O desencantamento se processa de dois modos, segundo a crença geral: naturalmente e por ferimento em luta com o homem. A primeira informação que a esse respeito colhemos foi em Nova Trento, em Santa Catarina, quando nos disseram que, ao final da fase lunar o lobisomem se tornava, novamente, um ente humano normal. Ou, então, "só se desencanta quando o galo desperta no terreiro", veiculam no litoral paraibano e o catarinense.

Colhida em Pernambuco foi a versão que se segue:

"...Ao ouvir o galo cantar, percorre o Lobisomem sete cidades e chegando, de volta já ao lugar de seu encantamento, espoja-se de novo, retorna a sua forma humana".

Quase identicamente, é a versão corrente no brejo paraibano, onde "antes que chegue o dia, o lobisomem regressa ao local do encantamento e novamente se rebola na cama do animal, readquirindo a personalidade humana, regressando calmamente para casa, com a aparência de uma pessoa normal".

Com referência ao Rio Grande do Norte, além de nos dizer como se "desencanta" o lobisomem, nos diz, também como proceder para que o lobisomem não se "desencante" jamais.

Eis a fórmula original:

"Se esconderem a roupa que o lobisomem deixou na encruzilhada ou desfizerem os sete nós, ficará ele todo o resto de sua existência um bicho fantástico. Não há notícia de transformação depois da morte."

O seu destino entretanto, pode ser alterado, se alguém se atrever a fazer-lhe um ferimento com um espinho que o faça sangrar, ou queimando suas roupas abandonadas durante a metamorfose. Para desencantar um lobisomem, também pode-se feri-lo usando uma bala untada com cera de vela acesa durante três missas de domingo ou na Missa do Galo, rezada na meia-noite de Natal. A faca, a foice, uma simples furadela de canivete, desencanta o fado.

Há também uma forma de transmitir este fado: quando um lobisomem já velho, pressente que vai morrer e tem necessidade de passar seu cargo à outrem. Se alguém lhe fizer a simples pergunta: "Tu Queres?", desconfie, pois pode ser um lobisomem tentando lhe passar sua herança.

Existem também os lobisomens-assombrações, que são aqueles que morreram antes do cumprimento de seu fadário. Muito agressivos, apresentam-se na forma de um grande e feroz cão branco. Não se consegue matá-lo, só exorcizá-lo.

O mito lobisomem está muito vivo no Rio Grande do Sul e tem gerado muitas lendas locais, entre elas encontramos a história dos fios vermelhos na boca de um homem que, quando Lobisomem, atacou uma mulher que usava um "viso" de seda.

Em Porto Alegre, os moradores do bairro Cristal, afirmam que lá reside um homem que é Lobisomem. Em Alegrete vive outro. Em Gravataí, um senhor velho garante que teve uma briga feia com um, mas conseguiu feri-lo. Desconfiado de seu vizinho, fez uma visita de surpresa e lá estava o homem, todo retalhado, desculpando-se que se machucara nos espinhos do mato.

O número sete aparece constantemente em suas histórias, o que leva a caracterizar este mito com que Jung chama de Selbest, o lado escuro do inconsciente coletivo. Este lado sombra representa o lado mais reprimido do caráter, a parte que a maioria das pessoas prefere não encarar, pois é o lado do inconsciente monstruoso.

Em inúmeros arquivos pelo mundo, encontram-se registradas centenas histórias de homens que transformavam-se em lobisomens. Esta estranha metamorfose, de acordo com pareceres psiquiátricos, trata-se de uma idéia insana de pessoas enfermas, que acreditam serem lobos e correm uivando pelos campos. É considerado, portanto, um sério desvio de personalidade, do tipo alucinatório. Os indivíduos que sofrem deste mal são chamados de licantropos. Ao que parece, a licantropia é uma patologia tão antiga quanto o homem e possui um perfil físico característico: sobrancelhas espessas, o dedo médio comprido, unhas longas e avermelhadas, orelhas situadas muito atrás, tem os olhos secos, nunca chora, pele áspera é mal tratada com tonalidade amarelada ou esverdeada e apresentando abundância de pelos e muita sede.

Além das características físicas, também encontramos tipos de conduta muito particulares: são amantes da noite e admiradores da solidão e estão sempre acometidos de profunda melancolia. O licantropo sai à noite para caçar, uivando como lobo, tirando os ossos dos túmulos e amedrontando todos os que com ele se deparam.

No Nordeste "os doentes de amarelão", "empambados", "come-longes", extenuados pela anemia, se transformariam em lobisomens, nas noites de quinta para sexta-feira, segundo a crença popular. Há entretanto, um fundo de verdade nessa crendice. A ancilostomíase, acarretando distúrbios cenestésicos, pode provocar em débeis e predispostos mentais sintomas de alucinação da cenestesia, podendo levar até aos fenômenos de transformação de personalidade.

Existe também a hipertricose, uma patologia que provoca hirsutismo em homens e mulheres e já acometeu personagens ilustres. É o caso de Petrus Gonsalvus (figura abaixo), um poderoso comerciante e armador português do século XVII, que instalou importantes empresas no Brasil.


Segundo explicações médicas, a hipertricose tem origem genética, porém, em alguns casos, pode apresentar-se de forma patológica, vinculada a uma alteração nas glândulas supra-renais, que provoca o crescimento anormal dos pêlos do corpo.

Entretanto, nenhuma explicação científica conseguiu afastar a crença do medo, como ocorre há séculos, do aspecto mágico da licantropia. Os casos de indivíduos que acreditam ser lobisomens e atuam como tais, continuam a engrossar os arquivos policiais e, paralelamente, enriquecendo o folclore popular.

O lobisomem brasileiro é uma concepção onde intervêm velhas crenças européias acrescidas de crenças totêmicas e míticas, de origem ameríndia e africana.

O MEDO DE ALGUNS ANIMAIS

Algumas vezes o medo de certos animais é irrazoável e intimamente ligado à repulsão. É o caso de ratos e aranhas que atemorizam muitas pessoas. Mas tal medo, não é por causa do perigo, mas sim pela repulsão violenta que se tem deles.

Nos séculos precedentes acreditava-se na possibilidade da metamorfose física em animal e essa crença persiste até nossos dias. Se ela é tão forte, é por que evoca um passado distante, enterrado em nosso espírito: o da animalidade humana, que, por causa desse temor visceral, torna-se bestialidade.

O lobisomem é o melhor dos exemplos. Se aterroriza, porque evoca uma ferocidade arcaica e a perda da personalidade. A transformação em animal destaca a animalidade que o ser humano rejeita com toda a força. Essa obsessão foi ampliada pelo cristianismo que prega a impureza de certos animais.

Metamorfosear-se em animal, seria pois, não só perder a personalidade humana, mas também voltar a uma natureza primitiva pretensamente inconciliável com a natureza humana evoluída ou suposta como tal. Entretanto, se pensarmos melhor, a bestialidade temida na transformação animal não é do animal, mas do próprio homem, porque essa bestialidade, que se exprime muitas vezes pela violência e pelo sangue, é a monstruosidade humana reprimida no mais profundo do subconsciente.

fonte:www.rosanevolpatto.trd.br/lobisomem.htm

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