terça-feira, 19 de outubro de 2010

  Falso coronel atuou na Secretaria de Segurança mas ninguém explica


Ninguém assumiu até agora a autoria da indicação de Carlos da Cruz Sampaio Junior para ocupar o cargo de coordenador da subsecretaria de Planejamento Operacional da Secretaria de Segurança (Seseg). O homem que fingiu ser tenente-coronel do Exército e deu instruções de tiro em batalhões da Polícia Militar foi nomeado para a função, cujo salário gira em torno de R$ 2 mil, no dia 29 de julho.

Quem assina a nomeação do falso coronel no Diário Oficial (D.O) é o chefe da Casa Civil, Arthur Vieira Bastos. A assinatura do ato de nomeação é apenas uma praxe, já que a autêntica batata-quente que se transformou o caso pode custar o cargo do responsável pela indicação. Segundo a secretaria, estão sendo investigados o subsecretário de Planejamento, Roberto Sá, e o superintendente de Planejamento Operacional, Roberto Alzir.

Nesta segunda-feira, o delegado Zaqueu Teixeira, diretor da Secretaria Nacional de Segurança Pública na época em que Carlos integrou o Gabinete Integrado de Segurança Pública, explicou que a indicação foi feita pela Seseg.

No zoológico
Ex-secretário de Segurança da época e deputado federal eleito, Anthony Garotinho explicou, nesta segunda-feira, que Sampaio desempenharia apenas funções burocráticas. Seu subsecretário de Operações, delegado Paulo Souto, teria sido o responsável pela indicação.

Souto, por sua vez, alegou que o nome de Carlos teria surgido por meio do diretor operacional da ocasião, o delegado Luiz Torres.

— Eu o conheci quando trabalhei na 17ª DP (São Cristóvão). Ele trabalhava no zoológico do Rio, não lembro o cargo exato, e foi registrar a morte suspeita de aves, em 1996 — contou o delegado Torres.

O delegado lembrou ainda que, em 2003, ao assumir a diretoria operacional com o delegado Paulo Souto, o nome de Carlos Sampaio voltou a ser citado por um amigo. O falso tenente-coronel estaria passando por dificuldades.

— Para nós, ele nunca se apresentou como militar e jamais andou armado. Ele fazia assessoria de informática e ajudava em pesquisas. É muito inteligente, tem um QI altíssimo. Fiquei surpreso ao ver a foto dele no jornal com um fuzil — alegou Torres.
Reprodução
Falso militar foi descrito por vizinhos como um sujeito arrogante e folgado

Homem que impunha respeito pelo cargo que, até então, todos acreditavam ocupar na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o tenente-coronel Carlos da Cruz Sampaio Júnior usava a sua patente pirata até para ameaçar aqueles que o contrariavam e dar mostras de seu suposto poder. Certa vez, na padaria em frente ao condomínio em que morava até ser preso, irritado, discutiu com funcionários na frente de vários fregueses e informou que, como não estava tendo regalias no estabelecimento, a segurança no local ficaria comprometida.

— Na padaria, paga no caixa, pega o ticket e, no balcão, se retira o produto. Ele, dizendo ser conhecido, não quis fazer isso. Foi impedido e reagiu, discutindo. No meio da discussão, disse que nenhuma viatura da Polícia Militar passaria mais ali, para dar segurança — relatou um homem que presenciou o mal-estar.

Com a intervenção do gerente, a discussão foi contornada. Mas a imagem do militar pirata não saiu da memória da vizinhança.

— É um mala! Arrogante! Sempre foi autoritário.
Pelo frenético entra e sai do Condomínio Parque Residencial Eldorado, em Vila Isabel, Carlos Júnior passaria despercebido. Mas ele chamava atenção ao estacionar o carro oficial da Secretaria de Segurança Pública do Rio, que ficava à sua disposição. Muitas vezes, sozinho. Outra vezes, com uma mulher que seria namorada.

— Eu não tenho o que falar dele. Mas na vida é assim mesmo: certo é certo, errado é errado. E se paga pelo erro. Minha escala de trabalho é de 12 horas por 36 horas. Mas já o vi com o carro do governo entrando aqui — afirmou o porteiro Denis Marques.

Nesta segunda-feira, enquanto todos negavam a presença de Carlos da Cruz Sampaio, pai do falso militar, uma viatura da Polícia Civil entrou no condomínio para intimá-lo a depor. Militar da reserva, ele terá que explicar o fato de o filho ter falsificado sua carteira e, assim, ter ingressado na Secretaria de Segurança. O Comando Militar do Leste não abrirá procedimento para investigar o caso, pois a falsificação teria sido cometida pelo filho.

“Todos os seus ilícitos penais são de natureza civil e serão apurados pelos órgãos de segurança pública responsáveis pela sua prisão e pela Justiça comum”, informou o Comando Militar do Leste.


fonte:Extra Online

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