quarta-feira, 12 de outubro de 2011


Drama:sem salários,jogadores do Capixaba passam dificuldades até com alimentação

Clube completou nesta terça-feira dois meses de atraso; Em alguns dias, jogadores só comeram arroz e feijão

HUMBERTO GOMES E THIERRY GOZZER - GAZETAESPORTES.COM
foto: Ana Paula Santos



Estrutura do Capixaba





































A cozinheira Jane mostra as compras que chegaram nesta terça-feira e normalizaram a situação no clube
Todos sabem que a estrutura do futebol capixaba nem de longe é a ideal para um cenário profissional. Dentro das quatro linhas, isso está mais do que provado, com o São Mateus amargando a pior campanha de todas as séries do Campeonato Brasileiro neste ano, quando disputou no mês passado a Série D do Brasileiro.

Na Copa Espírito Santo deste ano, as cenas mais uma vez se repetiram. Equipes como o Serra, começaram a competição com apenas 13 jogadores. Já o Espírito Santo de Colatina chegou a ser suspenso por não pagar os valores mínimos para se entrar em campo (borderôs).

VEJA GALERIA DE FOTOS DO ALOJAMENTO



Em Cachoeiro, uma equipe vive situação delicada. Em sua primeira participação na Copinha, o Capixaba, de Presidente Kennedy, acumula seis pontos, na quarta colocação do Grupo A, ainda com chances de classificação para as semifinais, mesmo que remotas. Mas fora de campo, a situação financeira e estrutural do clube pede socorro. Na última rodada, por exemplo, até o sábado, às 13 horas, menos de duas horas antes do confronto contra o Vilavelhense, o técnico Moreno ainda não sabia se teria um time para escalar.Vários jogadores, muitos deles titulares, deixaram a equipe. Alguns no decorrer da semana, como o goleiro Douglas, e outros no próprio sábado. Todos por conta do atraso salarial, que nesta terça-feira (11), chegou a exatos dois meses, de acordo com o presidente do clube Antônio Carlos Rosa.
Mas a situação vai muito além dos salários. As queixas são muitas: alimentação precária, condições mínimas de trabalho - sem massagista, médico (e materiais necessários para o tratamento de jogadores, como anti-inflamatórios ou até gase) e treinador de goleiros -, entre outros. Situações que não condizem com a estrutura necessária para um clube profissional.

15 dias

É o tempo que a equipe chegou a ficar sem treinar devido a todos os problemas financeiros e estruturais, já que os jogadores se recusaram a trabalhar

Ely Thadeu: 'Nunca vi nada assim'

Contratado como o principal nome do Capixaba para a Copa Espírito Santo, o atacante Ely Thadeu, com passagem pelo Vasco, ele foi um dos que deixaram o time no último sábado, sem sequer enfrentar o Vilavelhense
 na derrota por 2 a 1. Em conversa com o GAZETA ESPORTES por telefone, Thadeu relatou alguns dos problemas enfrentados enquanto atuava no time.
"Nos dois meses que eu estive lá, também não recebi nenhum pagamento, como a maioria dos jogadores. Os jogos foram passando, e nada de receber. No sábado, cada um teve a sua decisão pessoal de saber o que era melhor para cada um", frisou Ely, que foi além.
"Também tivemos problemas com alimentação. Os caras não tem estrutura. Eu não estou acostumado com isso. Estou acostumado com nutricionista para cuidar da alimentação. Os caras acham que comida é arroz, feijão, macarrão e carne, quando tem a carne. O café da manhã era pão, café e leite".
Dentro das quatro linhas a situação não era diferente. Ely lembra das condições de trabalho dos goleiros do Capixaba. "Não tínhamos nem preparadores de goleiros. Os próprios goleiros faziam seus treinos. Os jogadores se machucavam, não tinham remédio, uma gase, um esparadrapo".
foto: Ana Paula Santos
Estrutura do Capixaba
Um dos alojamentos dos jogadores do Capixba. VEJA GALERIA DE FOTOS

Sem dinheiro para ir embora

Sem receber desde o início da Copa Espírito Santo, a falta de recursos financeiros brecou até uma volta para casa, já que não foi possível ter dinheiro para a compra de uma passagem para o Mato Grosso, por exemplo, como é o caso do meia Mazinho, de 23 anos.
"Eles até estão correndo atrás para ver se conseguem resolver o problema. Nos prometeram acertar tudo nos próximos dias, mas hoje eu não teria dinheiro para ir embora. Eu não consigo ir embora só com o dinheiro da passagem. Temos também que receber os salários atrasados. Se for embora, aí que eu não recebo", disse o jovem jogador, que deixou a filha Ana Luiza, de um ano e três meses, com a família.
"A saudade é grande. Já tem tempo que não a vejo. Eu ligo para lá, entro em contato... Não tive como dar nenhuma ajuda para a família. A gente liga, explica a situação e vai levando...", explica Mazinho,  triste por talvez não poder presentear a filha no Dia das Crianças, nesta quarta-feira (12). "Eu já conversei is
so com eles (diretoria) ontem (nesta segunda-feira). Eles estiveram aqui, e disseram que iam tentar um vale presente, para que eu pudesse enviar para minha filha".
"A gente vai conversando. Alguns momentos são chatos.  Ainda não cheguei a chorar"
Mazinho, meia do Capixaba

Alimentação

Sincero. Assim foi o presidente do Capixaba Antônio Carlos Rosa. Ele admitiu que em alguns momentos a alimentação do clube chegou a ser precária. "A alimentação ficou um pouco precária, mas em momento algum faltou o essencial. O clube vive uma crise financeira enorme, mas não é uma situação só do Capixaba, e sim do futebol do Estado", diz Rosa.
O essencial, de acordo com os jogadores, foi arroz, feijão e macarrão. A carne não esteve presente no prato em alguns dias, assim como o lanche da noite e o café da manhã (pão, leite e café). "Um dia eles comiam arroz com feijão. No outro, macarrão com farinha. Se tinha carne, ótimo. Se não tinha, ficavam sem", garante o técnico Moreno, que está em Cachoeiro de Itapemirim, mas não vem treinando o time nos últimos dois dias.
O volante Fernando, ex-Vilavelhense, também confirmou o problema na alimentação, assim como Mazinho. "As vezes os caras almoçam sem carne, aí, dois dias depois, aparece a carne". O meia do Mato Grosso emenda. "Ficamos umas duas semanas com problemas na alimentação. Comemos arroz, feijão e macarrão. Um dia tinha carne, no outro não. Mas conversamos com toda a diretoria, e hoje (nesta terça-feira) chegou leite, comida, trouxeram tudo para a gente", disse Fernando, que inclusive confidenciou que talvez não jogue mais pela equipe.
"A alimentação ficou um pouco precária, mas em momento algum faltou o essencial"
Antônio Carlo Rosa, presidente do Capixaba

Capixaba lamenta problemas

O presidente Antônio Carlos Rosa também comentou sobre o atraso nos salários, que nesta terça-feira completam dois meses. "Hoje o clube completa dois meses sem pagar os salários.  Algumas pessoas que emprestaram dinheiro para o clube estão nos cobrando. A pressão maior vem dos credores que apostaram no clube e nós não tivemos retorno dentro do campo. Acredito que os problemas serão sanados dentro de oito dias", frisou Rosa.
Segundo o presidente, não seria digno deixar os jogadores irem embora sem receber. "O clube não acha digno os atletas que trabalharam indo embora sem receber. Não estamos fugindo da responsabilidade".
Nutricionista adverte
Perguntada pelo GAZETA ESPORTES sobre a rotina de alimentação do Capixaba no período da competição, apesar de não saber detalhadamente o cardádio do clube, a nutricionista Camila Santana afirmou que pelos relatos, a alimentação dos jogadores não teria sido a ideal e pode inclusive causar prejuízos na saúde e no desempenho.
"Em média seis refeições por dia é o correto. Variando de acordo com o dia de jogo ou não. Não é ideal comer apenas arroz, feijão e macarrão. Ainda mais alguns dias sem carne. O certo é a variedade de alimentos, com legumes, verduras, carne branca, um cardápio variado. Sem isso, o atleta pode ficar com defasagem de sais minerais, prejudicando até o desempenho cardiorespiratório", frisa Camila Santana.

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