quinta-feira, 9 de setembro de 2010

 Padre é preso pela PF com dólares e euros escondidos

Administrador dos bens da Arquidiocese do Rio tentava embarcar para Portugal com o equivalente a R$ 117.240 não declarados

Rio - Um novo escândalo mexe com a Igreja Católica. O administrador dos bens da Cúria e pároco da Igreja de Copacabana, monsenhor Abílio Ferreira da Nova, 77 anos, foi preso domingo à noite pela Polícia Federal (PF) quando tentava embarcar para Portugal com 52.895 euros (R$ 115.898) e 778 dólares (R$ 1.342) escondidos em bagagens e, segundo agentes, até dentro das meias.

Dos R$ 117.240, o pároco só comprovou, após ter sido flagrado, a procedência de 7 mil euros (R$ 15.400), mostrando documento de câmbio emitido por banco. Por lei, o passageiro só pode embarcar para fora do País com até R$ 10 mil. Quando passa desse montante, o valor deve ser informado.
Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Ano passado, Abílio mostrou gastos desnecessários do padre Edvino Steckel | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
O monsenhor ficou cerca de seis horas preso na delegacia da Polícia Federal do Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, mas, por ser idoso, ter problemas de saúde e não apresentar ameaça à ordem pública, foi solto pela juíza Maria do Carmo Freitas Ribeiro, da 3ª Vara Federal Criminal. Ele vai responder em liberdade pelo crime de evasão de divisas.

O religioso se preparava para entrar no voo 184 da TAP, às 18h45, quando foi abordado por agentes que checavam denúncia de que um senhor de nome Abílio tentaria ir para a Europa levando alta quantia de euros e dólares não declarados. O pároco foi orientado a acompanhar dois agentes, que verificaram suas bagagens.

Na mala, foram encontrados 45 mil euros camuflados entre roupas, latas de goiabada e material de higiene pessoal. Na bagagem de mão, havia mais euros e os dólares. Os agentes perceberam que o suspeito era padre pela roupa que estava vestindo e na revista às malas. Eles se surpreenderam ainda mais com o fato de que Abílio também teria escondido notas de dinheiro nas meias. “Senhor padre, desculpe, mas o senhor está preso”, anunciou um dos policiais.

Em depoimento ao delegado federal Carlos Furtado, o monsenhor afirmou que pretendia viajar de férias para Portugal, onde vive sua família, e garantiu que o dinheiro seria usado para ajudar seus parentes pobres e na reforma de uma paróquia.

Em nota, o ecônomo lamentou “o erro de não ter informado, previamente, que estava de posse das economias” e garantiu que o dinheiro era parte de economias pessoais, adquiridas ao longo de sua vida, e que a procedência está declarada. Após o episódio, a Cúria informou que Abílio será substituído do cargo e que ele já havia pedido a renúncia desde maio.
Há um ano, outro escândalo

Em maio de 2009, monsenhor Abílio assumiu a administração dos bens da Arquidiocese no lugar do padre Edvino Steckel. Auditoria feita pela Igreja mostrou que, em 16 meses de gestão, Edvino gastara R$ 14 milhões em despesas desnecessárias ou não justificadas. O DIA mostrou, na época, o luxo de sofás e poltronas — de couro, com enchimento de penas de ganso — adquiridas por mais de R$ 50 mil para a sede da entidade.

A Arquidiocese também determinou a devolução, por Edvino, do carro importado que ele usava, um Jetta. Um modelo novo custa mais de R$ 90 mil. A Igreja mandou que fossem retirados dos roteiros das missas anúncios de cartão de crédito criados na gestão de Dom Eusébio Scheid, que, em abril de 2009, deixara a Arquidiocese.

“Isso enxovalha todo um trabalho que se faz em favor dos pobres”, dissera, na época, o monsenhor. Padre Edvino foi retirado do cargo de ecônomo depois que o ‘Informe do DIA’ revelou a compra, pela Arquidiocese, de apartamento de luxo por R$ 2,2 milhões no Flamengo que serviria de lar no Rio para Dom Eusébio. Ele havia nomeado Edvino em 2008.
ENTREVISTA COM MONSENHOR ABÍLIO: ‘O DINHEIRO É LIMPO, NÃO É ESPÚRIO’

Português de nascimento e brasileiro naturalizado, o monsenhor Abílio Ferreira da Nova afirmou ter errado ao não declarar o dinheiro que, segundo ele, é fruto de suas economias. “Esse dinheiro, que nem é tanto assim, é limpo, não é espúrio, tenho comprovada sua origem. Nada é roubado”, disse ontem à tarde. Segundo ele, dos 52 mil euros apreendidos, 45 mil seriam doados para parentes e para a igreja de Povóa de Varzim, sua terra natal.
1. Por que o senhor não declarou o dinheiro?
— Eu errei. Eu sabia que tinha que declarar, mas não sabia onde isto seria feito. No embarque, não me perguntaram nada, também nem era tanto dinheiro assim. Depois que a polícia me abordou, eu disse que poderia fazer a declaração e pagar multa, mas me informaram que não era mais possível.
2. Qual é a origem de todo esse dinheiro?
—São economias que fiz durante muito tempo. Como não preciso gastar dinheiro, guardo o que recebo. Tudo está declarado, pago normalmente os meus impostos. Na Arquidiocese eu não mexo com dinheiro, não assino cheques, apenas cuido da administração.
3. Onde estavam as notas?
—Como o volume era muito grande, coloquei 45 mil euros na mala, ao lado de latas de goiabada. O resto estava na minha bolsa, com o passaporte. Eu é que mostrei esta outra quantia à polícia.
4. Quando é que comunicou o fato a Dom Orani?
—No domingo mesmo, no aeroporto. Ele ficou chateado, claro, mas compreendeu o que se passou.

5. O dinheiro foi descoberto graças a uma denúncia anônima. O senhor tem ideia de quem pode ter feito isto?
—Não faço a menor ideia. Ninguém sabia que eu levaria esse dinheiro, nem minha sobrinha, que mora comigo. Quem fez a denúncia sabia meu nome completo, o horário do meu voo.
6. Acha que o autor pode ser alguém prejudicado com os episódios na Arquidiocese do ano passado?
—Isso é por sua conta. Não tenho certeza de nada, não posso suspeitar de ninguém.
7. Vai mesmo deixar o cargo de ecônomo?
—Em maio eu já havia solicitado minha saída. A procuração que me permite exercer o cargo só é válida até outubro. (Fernando Molica)

fonte: O DIA ONLINE

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